segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

"Nunca me senti em Casa" - Poema de Emily Dickinson



Peggy Guggenheim 
(1898-1979) by Franz von Lenbach, ca. 1903, 
 
 
 
Nunca me senti em Casa 
 
 
Nunca me senti em Casa – Cá em baixo –
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa – eu sei –
Eu não gosto do Paraíso –

Porque é Domingo – sempre –
E o Recreio – nunca chega –
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta feira –

Se, ao menos, Deus fizesse visitas –
Ou Sestas –
E deixasse de nos ver – mas dizem
Que Ele – por um Telescópio

Perpétuo nos olha –
Eu própria fugiria
D’Ele – e do Espírito Santo – e de Todos –
Não fosse o “Juízo Final”!

 
in “Esta é a Minha Carta ao Mundo e Outros Poemas”
 (tradução de Cecília Rego Pinheiro) 
 
 
[Emily Dickinson (1830-1886) é considerada a maior poeta norte-americana.Talvez a maior de língua inglesa. Deixou-nos quase dois mil poemas. Poucos conhecemos, em português. Jorge de Sena abriu o caminho às primeiras traduções, já difíceis de encontrar, Cecília Rego Pinheiro acrescentou uma breve recolha ainda disponível na Assírio & Alvim ("Esta É a Minha Carta Ao Mundo e Outros Poemas").] (Daqui)



Peggy Guggenheim 
 

Marguerite “Peggy” Guggenheim nasceu, em Nova Iorque, a 26 de Agosto de 1898, no seio de uma família abastada. Filha de Florette Seligman (1870-1937), pertencente a uma família banqueira de topo, e de Benjamin Guggenheim (1865-1912) que, juntamente com o pai e os seis irmãos, criou fortuna através do trabalho com metais. O seu pai foi uma das vítimas do naufrágio do Titanic, em Abril de 1912.

Outro familiar que é necessário destacar é o tio Solomon Robert Guggenheim (1861-1949), fundador do Museu com o mesmo nome em Nova Iorque. Foi exatamente nessa cidade que Peggy Guggenheim  passou a sua infância e juventude. É em 1921, já casada com Laurence Vail (1891-1968, casam em 1922 e separam-se em 1930; pai dos seus dois filhos) que viaja para a Europa, nomeadamente para Paris. Aqui, desloca-se entre a vida boémia e a sociedade americana expatriada, conhecendo algumas pessoas que se tornariam amigos de longa data, como é o caso de Constantin Brâncuși (1876-1957), Djuna Barnes (1892-1982) e Marcel Duchamp (1887-1968).

É em 1938 que abre a Guggenheim Jeune, uma galeria de arte em Londres. Com 39 anos, dá assim início a uma carreira que vai ter um grande impacto na Arte no pós-guerra.
Amigos como Samuel Beckett (1906-1989) e Duchamp incentivaram Peggy a apostar na Arte Contemporânea, ensinando-lhe a diferença entre os vários estilos e apresentando-a a vários artistas. Nesta galeria, expôs obras de Jean Cocteau (1889-1963),  Wassily Kandinsky (1866-1944), Yves Tanguy (1900-1955), Rita Kernn-Larsen (1904-1998), entre outros. 
 
A primeira obra que Peggy Guggenheim comprou foi Head and Shell (c. 1933) do pintor e poeta alemão  Jean Arp (1886-1966).
É também nestes anos que volta a instalar-se em Paris e aqui começa a ocupar-se a tempo inteiro da compra de obras de arte, adotando o mote: "Comprar uma obra todos os dias e viver de acordo com isso."
Apesar dos tempos conturbados, adquiriu grandes obras de artistas como Georges Braque (1883-1963), Salvador Dalí (1904-1989), Robert Delaunay (1885-1941), Piet Mondrian (1872-1944), Francis Picabia (1879-1953), Fernand Léger (1881-1955) e Brâncuși.

Com o avançar da guerra, pediu ao Musée du Louvre para esconder a sua coleção, algo que lhe foi negado. Tendo nome judeu, viu-se obrigada a ocultá-lo nos serviços alfandegários para conseguir enviar as suas obras como “itens domiciliários” em segurança para Nova Iorque. Assim, não só conseguiu proteger a sua coleção como também os meios de subsistência dos seus artistas considerados “degenerados” pelo 3º Reich.

Só com o aproximar do exército nazi a Paris é que decide fugir para o sul de França e em Julho de 1941 regressa a Nova Iorque com os seus filhos, o seu agora ex-marido, a esposa e filhos dele, e com o pintor Max Ernst (1891-1976), com quem viria a casar pouco tempo depois, divorciando-se mais tarde, em 1946.

Em Outubro de 1942, inaugura Art of This Century, em  Manhattan, New York City, uma galeria com coleção permanente, exposições temporárias e venda de obras, e que cedo se tornou o espaço mais estimulante da arte contemporânea em Nova Iorque, com uma grande inovação ao nível das salas de exposição, com todos os elementos do espaço a relacionarem-se com os estilos e peças aí expostos. Aqui queria mostrar que não tinha preferência entre a Abstração e o Surrealismo, pedindo a colaboração de artistas de ambos os estilos para várias coisas, incluindo a conceção do catálogo. 

Até aqui, a coleção de Peggy Guggenheim ia de 1910 a 1942, numa quantidade limitada, mas bastante forte a nível qualitativo: Cubismo, Futurismo, Orfismo, Abstração Europeia (Suprematismo, Construtivismo, De Stijl), pintura Metafísica, Dadaísmo, Surrealismo, Purismo; com obras de vários artistas como BrâncușiJean Arp, Alberto Giacometti (1901-1966), Henry Moore (1898-1986), Alexander Archipenko (1887-1964), Henri Laurens (1885-1954), etc.

Nesta galeria, para além de expor a sua coleção, usava as exposições temporárias como palco para os grandes nomes da arte europeia, mas também para os artistas americanos emergentes como Robert Motherwell (1915-1991), Mark Rothko (1903-1970), Jackson Pollock (1912-1956), entre outros. 
Pollock  seria exatamente um dos artistas a quem Peggy Guggenheim daria um maior impulso, sendo o primeiro a expor a solo na galeria e cujas obras a colecionadora promovia e vendia ativamente. Foi também ela que comissionou o seu maior Mural (1943). Guggenheim viria a considerar o sucesso do artista americano como uma das suas maiores conquistas. 

Mais importante que dar a conhecer a Arte Europeia, Peggy, juntamente com o amigo e assistente Howard Putzel (1898-1945), era uma grande incentivadora do crescente movimento Avant-Garde, em Nova Iorque. O desenvolvimento deste que foi o primeiro estilo artístico americano vai, por isso, buscar grande força à sua coleção. 

Mal tem oportunidade de regressar à Europa, Peggy escolhe Veneza como destino, viajando rumo à cidade em 1947. Pouco depois da sua chegada, compra o Palazzo Venier dei Leoni, onde acabaria por passar o resto da sua vida. Esta foi a cidade da vida e do coração da colecionadora, que tinha uma visão peculiar sobre a mesma. Entre várias afirmações, podemos destacar:

"Assume-se que Veneza é o local ideal para uma lua-de-mel. Este é um erro muito grave. Viver em Veneza ou apenas visitá-la significa que se apaixonam pela própria cidade. Não sobra nada no vosso coração para mais ninguém."

Logo em 1948, enquanto Itália atravessava uma Guerra Civil, expõe a sua coleção na Bienal de Veneza. É a primeira vez que obras de artistas como PollockArshile Gorky (1904-1948) e Rothko são exibidas na Europa. Este ponto aliado à quantidade de obras cubistas, surrealistas e abstratas na coleção, fazem desta exposição uma das mostras modernistas mais coerentes apresentadas no país até então.
Pouco depois, em 1949, organiza uma exposição de escultura contemporânea e, em 1950, a primeira exibição europeia de obras de Pollock.
Em 1962, a cidade nomeia-a Cidadã Honorária de Veneza. 

Peggy Guggenheim nunca deixou de comprar obras de arte, apoiando artistas das mais variadas nacionalidades como Edmondo Bacci (1913-1978), Francis Bacon (1909-1992), Kenzo Okada (1902-1982), entre outros.
Este amor e orgulho pela Arte e pela sua coleção fazem com que, em 1951, Peggy decida começar a mostrá-la, bem como a sua casa, ao público. 

Em 1969, expõe a sua coleção no museu do tio, em Nova Iorque. A partir daqui, estreita-se a ligação entre os dois mundos, sendo que, em 1970, doa o seu Palazzo e, em 1976, as suas obras à Solomon R. Guggenheim Foundation. Esta Fundação foi criada em 1973 como forma de promover o conhecimento da Arte e estabelecer um ou vários museus.
 
 

 Max Ernst and  Peggy Guggenheim in the gallery ‘Art of This Century’,
New York, ca. 1943, via HuffPost


Peggy Guggenheim morre a 23 de Dezembro de 1979, em Itália.
Após a sua morte, o seu Palazzo tornou-se um dos mais conceituados museus de Arte moderna no mundo: Coleção Peggy Guggenheim
A sua coleção foi desde logo uma das mais proeminentes coleções de Arte Cubista e Surrealista, numa altura em que estes movimentos não eram tidos em grande consideração por outros colecionadores, incluindo o seu tio.
As obras que reuniu representam o seu gosto e estilo pessoal.  Peggy Guggenheim fazia pouca distinção entre a vida pessoal e a profissional, pois, regra geral, os artistas que apoiava e cujas obras expunha se tornaram seus amigos.
Segundo a neta e curadora Karole Vail (n.1959): "A sua vida e a sua coleção de Arte estavam completamente interligadas."

Apesar da época em que viveu, Peggy Guggenheim não teve problemas em assumir os seus gostos e intenções, quer no mundo da Arte como no mundo das relações pessoais. Fez o seu caminho como uma mulher livre e descomplicada, dando prioridade ao que a fazia feliz, preocupando-se e ajudando quem assim merecia, sem olhar a meios e ao que os outros poderiam dizer, sendo uma pioneira num mundo que ia reclamando mais espaço para as mulheres. Mesmo tendo um gosto artístico específico e limitado a certas épocas e estilos, viveu a Arte como poucos o fazem.

"Olho para a minha vida com grande alegria. Penso que foi uma vida muito bem sucedida. Sempre fiz o que quis e nunca me preocupei com o que os outros pensavam. Libertação das mulheres? Eu era uma mulher livre muito antes de haver um nome para isso." - Peggy Guggenheim (Daqui)


Peggy Guggenheim, Venice, April 1969. Photograph: Stefan Moses (daqui)
 
 

Action Painting
 
 
O termo Action Painting qualifica em simultâneo uma técnica pictórica e uma corrente artística associada ao movimento do Expressionismo Abstrato, desenvolvido desde os inícios da década de 1940 nos Estados Unidos da América e na Europa, onde se tornou conhecido por Informalismo.

Enquanto movimento pictórico, a Action Painting é geralmente confundida com o Expressionismo Abstrato, do qual constitui somente uma das tendências formais e estéticas, a par do Color field Painting.

O seu nome resulta do título de um artigo publicado pela revista Art News de dezembro de 1952, "The American Action Painters", escrito pelo poeta e crítico de arte americano Harold Rosenberg (1906-1978). A grande divulgadora desta corrente foi a galerista nova iorquina Peggy Guggenheim  (1898-1979) que, desde 1942, realiza uma série de exposições dos trabalhos destes artistas.

A Action Painting, ou pintura gestualista, tem as suas origens mais diretas no movimento surrealista e no desenho automático, praticado por alguns dos artistas que integravam esta corrente, mais especificamente pelo pioneiro André Masson (1896-1987), famoso pelos trabalhos que realiza em meados da década de vinte, sob influência da psicologia e da psicanálise freudianas e jungianas. A influência deste artista na cultura artística nova iorquina tornou-se particularmente forte após a sua ida para os Estados Unidos em 1941.

Mais especificamente, o termo Action Painting aplica-se ao trabalho de poucos pintores, todos saídos do período da pós-depressão nos Estados Unidos, como Jackson Pollock e o seu discípulo Hans Hofmann (1880-1966) cujos trabalhos revelam, desde os anos 40, a preferência pela pintura através do dripping, técnica que consistia em deixar pingar a tinta sobre uma tela, geralmente de grande dimensão, colocada na horizontal sobre o chão. Pode também ser incluída nesta tendência parte da obra dos americanos Arshile Gorky (1904-1948) e de Robert Motherwell (1915-1991).

Estes artistas apresentam como denominador comum o entendimento do quadro como um palco para a ação artística. A pintura, sempre abstrata, realiza-se através de amplos gestos (que adquirem o carácter de coreografias), procurando salientar a intensidade e intencionalidade estética contida no ato de pintar. É precisamente esta ação livre e sem obstáculos intelectuais e não tanto o seu produto final (uma imagem constituída por linhas, manchas, cor e forma), aquilo que deve ser comunicado ao público. Raramente são realizados estudos prévios, considerados aniquiladores do processo de desenho automático de cariz espontâneo.

Tendo tido um desenvolvimento mais forte nos Estados Unidos, em torno da chamada Escola de Nova Iorque, a Action Painting produziu ecos na Europa do pós-guerra. Em França, influenciou, em alguns aspetos, o movimento informalista e o Tachismo, como o demonstra a linguagem sígnica instantânea e de grande expressividade do pintor Georges Mathieu . Na Alemanha destaca-se o trabalho dos pintores Fred Thieler e Karl Otto Götz (que levam o automatismo e o instinto a um limite máximo) e o Grupo Zen, criado em Munique, que retoma o método e técnicas pictóricas de Jackson Pollock. Em Itália, salienta-se a atividade do grupo de artistas denominado "Movimento Arte Nucleare".
A Action Painting foi precursora de alguns movimentos posteriores, como a Arte Processual dos anos 70. (Daqui)
 

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

"Amar você é coisa de minutos" - Poema de Paulo Leminski


 
Albert Henry Collings (English, 1868-1947), The Proposal (Danae, Daylight and Lamplight)
 


Amar você é coisa de minutos

 
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui.
in Toda Poesia
 
 
Albert Henry Collings, Portrait of a Lady


Amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o. 
 
  
 
 Albert Henry Collings, Woman with hat and veil
 
 
Que belo que é
não pensar ao ver um raio:
'A vida é fugaz'.
 (1644- 1694) 
(Haikai) 
 


Albert Henry Collings, Portrait of the actress and singer Marjorie Villis


"Admirável aquele
cuja vida é um contínuo
relâmpago." 
  

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

"Velhas Árvores" - Poema de Olavo Bilac


George Goodwin Kilburne (British, 1839-1924), The Picnic, c. 1900 (watercolour)
 


Velhas Árvores



Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

 
Olavo Bilac, in “Poesias”
Editora Martin Claret, S.P., 2003, p. 138.


George Goodwin Kilburne, The family picnic (watercolour)


"Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registar todo o nosso vazio." 
 
 
 
Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio.

Fonte: https://citacoes.in/citacoes/602952-khalil-gibran-arvores-sao-poemas-que-a-terra-escreve-para-o-ceu/

sábado, 1 de janeiro de 2022

"Trompe l’œil" - Poema de Alexandre O'Neill

 


[O Santuário de Santa Luzia, também referido como Santuário do Monte de Santa Luzia, Basílica de Santa Luzia, Templo de Santa Luzia e Templo do Sagrado Coração de Jesus, localiza-se no alto do monte de Santa Luzia, na freguesia de Santa Maria Maior, na cidade, concelho e distrito de Viana do Castelo, em Portugal
Um dos "ex libris"" da cidade, do seu sítio descortina-se uma vista ímpar da região, que concilia o mar, o  rio Lima com o seu vale, e todo o complexo montanhoso envolvente, panorama considerado um dos melhores do mundo segundo a National Geographic.
A Basílica no alto do monte de Santa Luzia foi principiada em 1903, por iniciativa do padre António Martins Carneiro, com projeto do arquiteto
Miguel Ventura Terra (1898). A última etapa da sua construção, sob a direção do arquiteto Miguel Nogueira Júnior a partir de 1925, é considerada como inspirada na Basílica de Sacré Cœur, em Paris. 
Os trabalhos de cantaria em granito são de responsabilidade do mestre canteiro, Emídio Pereira Lima. Aberto ao culto em 1926, os trabalhos estenderam-se até 1943. Desde 1923 o santuário é servido pelo Elevador de Santa Luzia.
O santuário compreende ainda o "Núcleo Museológico do Templo-Monumento de Santa Luzia", constituído por uma sala na parte inferior da basílica. O acervo é constituído por talha, imagens, azulejos, e outros.]
(Daqui)
 
 
 
 

Trompe l’œil


Lembras-te jóia, daquele bacalhau
que comemos em Viana do Castelo?
Parece que foi ontem, mas já lá vão dez anos!
Ainda tinhas tu muito cabelo…

Chovia nesse dia, bem me lembro.
Deixaste no comboio o guarda-chuva.
Quem te mandou levar toda a viagem
a fazer olhinhos à viúva?

Contos largos… Mas quando o bacalhau,
como tu disseste: deu à costa,
esqueceste o guarda-chuva e a viúva
e perguntaste a mim: góta não góta?

Ó jóia! E o azeitinho! Aquilo sim!
P’ra comer só no Norte, só no Norte!
E depois… Na pensão… Os pés juntinhos…
Foi mais forte que nós, muito mais forte! 
 
 
 
 
 Monte de Santa Luzia, Santuário e estuário do rio Lima, Viana do Castelo, Portugal
 (Fotografia de Arménio Belo)
 
 
 
Viana do Castelo

 
Viana do Castelo, conhecida como a “Princesa do Lima” e pelas suas festas da  Senhora da Agonia, é uma das mais bonitas cidades do Norte de Portugal. A sua participação nos Descobrimentos portugueses e, mais tarde, na pesca do bacalhau mostram a sua tradicional ligação ao mar.

A Viana do Castelo depressa se acede a partir da cidade do Porto, ou de Valença para quem vem de Espanha. Do monte de Santa Luzia pode observar-se a situação geográfica privilegiada da cidade, junto ao mar e à foz do rio Lima. Esta vista deslumbrante e o Templo do Sagrado Coração de Jesus, edifício revivalista de Ventura Terra, de 1898, podem ser o ponto de partida para visitar a cidade.

Viana enriqueceu-se com palácios brasonados, igrejas e conventos, chafarizes e fontanários que constituem uma herança patrimonial digna de visita. No Posto de Turismo pode-se pedir uma brochura e fazer percursos de inspiração manuelina, renascença, barroca, art deco ou do azulejo. Percorrendo algumas das ruas do centro histórico sempre se chega à Praça da República, o coração da cidade. É onde ficam o edifício da Misericórdia e o chafariz, quinhentistas, assim como os antigos
Paços do Concelho. Não longe fica a românica ou Igreja Matriz.

Virada para o mar que fez a história de Viana, uma igreja barroca guarda a imagem da Senhora da Agonia, da devoção dos pescadores. Sai todos os anos a 20 de agosto para abençoar o mar numa das festas mais coloridas de Portugal, onde são de referir a beleza e riqueza dos trajes típicos que desfilam nas festas.

É que Viana - conhecida também pela filigrana em ouro - tem sabido manter as suas tradições, como se pode ver no Museu do Traje (traje e ouro), no Museu Municipal (especial relevo para a típica louça de Viana que aqui se expõe) ou no navio Gil Eannes. Construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo para apoiar a pesca do bacalhau, o navio aqui está de novo ancorado para memória das tradições marítima e de construção naval da cidade.

Mas Viana do Castelo é também considerada uma “Meca da Arquitetura” graças aos muitos e importantes nomes da arquitetura portuguesa contemporânea que assinam equipamentos e espaços da cidade. É o caso da Praça da Liberdade de Fernando Távora, da Biblioteca de Álvaro Siza Vieira, da Pousada da Juventude de Carrilho da Graça, do Hotel Axis de Jorge Albuquerque ou ainda do Centro Cultural de Viana do Castelo de  Souto de Moura, entre muitos outros.

Nas redondezas da cidade podemos fazer um passeio pela ciclovia litoral ou fluvial ou por um dos muitos trilhos assinalados, assim como praticar surf, windsurf ou kitesurf e bodyboard em praias de areia fina e dourada. E ainda fazer jet-ski, vela, remo ou canoagem no rio Lima.

  • Viana é mar
 
Viana do Castelo, ao longo dos seus 24 quilómetros de costa litoral, tem vindo a ver reconhecido o valor patrimonial, natural e paisagístico das suas praias que, por seu lado, têm sido alvo de diversas intervenções de qualificação e valorização. Esta especial atenção reflecte-se nos vultuosos investimentos que vão da requalificação das praias à defesa dos cordões dunares e da respectiva flora e à organização de campanhas de educação que visam estimular a conservação, valorização e defesa do litoral vianense.

Por isso, Viana do Castelo tem vindo a ser galardoada com a Bandeira Azul, símbolo máximo da qualidade das praias e, agora, o litoral de Viana do Castelo pretende tornar-se um “Território de Excelência” com a implementação do denominado Polis do Litoral Norte – Operações de Requalificação e Valorização da Orla Costeira. Este ambicioso plano reconhece a importância estratégica da zona costeira e considera que as intervenções no litoral devem prosseguir objetivos concretos de modernidade e inovação, tais como a valorização dos aglomerados populacionais, a beneficiação das vias de acesso e reordenamento das áreas de estacionamento, a proteção costeira, para além de uma ciclovia, da criação de apoios de prática balnear e de apoio à prática desportiva náutica.
 
  • Viana é cor
 
O concelho é rico em tradições e o traje tradicional de Viana do Castelo é mesmo um símbolo do país, reconhecido como marca em Portugal e no estrangeiro pelo colorido e originalidade das suas peças. De destaque é também a ourivesaria de Viana, enquanto retrato fiel das suas tradições. As arrecadas, as custódias, os brincos à rainha, as laças, os trancelins e os fios em filigrana elaborada são parte integrante do nome da cidade, intimamente ligado ao traje à vianesa e à imagem da cidade.

A música faz parte da vida da comunidade Vianense, assumindo um simbolismo especial no acolhimento dos seus visitantes. A diversidade dos grupos etnográficos é igualmente acompanhada pelas escolas de música que florescem no concelho, formando tocadores de concertina, cavaquinhos, gaitas de fole e acordeão, que integram orquestras, bandas e conjuntos musicais responsáveis pela variada animação cultural.

  • Viana é monumental
 
As origens de Viana do Castelo remontam à Idade do Ferro, como confirma a Citânia erguida nessa altura no Monte de Santa Luzia. Mas a sua História, sempre ligada aos mares, relata um conjunto de acontecimentos que fizeram de Viana um dos principais portos comerciais do país. Em 1258, D. Afonso III concedeu-lhe o primeiro Foral, chamando-lhe Viana da Foz do Lima, antevendo assim a sua vocação marítima. Mais tarde, a 20 de Janeiro de 1848 e por decreto de D. Maria II, Viana é elevada a cidade e adopta o nome pelo qual é conhecida hoje: Viana do Castelo.

Plena de História, a cidade conta com inúmeros pontos de interesse cultural e turístico, aos quais se juntam o mar, o rio e a montanha, os três ecossistemas intimamente ligados à cidade e à sua História.

  • Viana é turística
 
Num cenário natural de indescritível beleza, a cidade de Viana do Castelo está destinada ao turismo, com um conjunto de espaços dedicados à recepção e acolhimento de quem visita Viana do Castelo e quer conhecer a sua cultura, a sua arte e as suas tradições. De destaque são os museus e o seu riquíssimo acervo e ainda os núcleos museológicos espalhados pelas freguesias e dedicados às tradições.

O Museu de Arte e Arqueologia está instalado numa distinta mansão senhorial do século XVIII e possui uma das mais importantes e valiosas colecções de faiança antiga portuguesa dos séculos XVII a XIX, que inclui diversas peças da famosa fábrica de louça de Viana. Para além de um importante acerco de pintura, desenho e peças de arte sacra, destaca-se a bela coleção de mobiliário indo-português do século XVIII. Neste espaço, é possível ainda descobrir o espólio da azulejaria portuguesa e hispano-árabe, único na sua variedade e riqueza, a que se junta a parte arqueológica da Igreja das Almas e da Casa dos Nichos.

Situado num espaço nobre da cidade - a Praça da República - está o Museu do Traje, instalado num edifício Estado Novo recuperado e que alberga um excelente espólio de trajes e de ourivesaria tradicional, promovendo, valorizando e recuperando um valioso património concelhio. Com esse mesmo objetivo, foi criado um conjunto de núcleos museológicos, nomeadamente as Azenhas de D. Prior, onde está situado o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo (que integra a Rede Portuguesa de Moinhos) ou o Museu do Pão de Outeiro, situado na antiga escola primária e que mostra todas as alfaias agrícolas do ciclo do milho e do pão e que integra também um moinho de água.

Viana do Castelo é ainda a descoberta de uma rota de galerias e museus, festas e tradições, artesanato, ourivesaria e, claro, gastronomia.
 
  • Romaria de Nossa Senhora da Agonia
 
Se é verdade que é em Maio, com a Festa das Rosas ou dos Cestos Floridos de Vila Franca do Lima, que começa o ciclo das Festas Vianenses é, sem dúvida, em Agosto, na incomparável e magnífica Romaria de Nossa Senhora d'Agonia, que a tradição atinge o seu maior expoente. A procissão ao mar e as ruas da Ribeira, enfeitadas com os tapetes floridos, são testemunhos da profunda devoção religiosa. A etnografia tem o seu espaço nos desfiles do Cortejo Etnográfico e na Festa do Traje, onde se pode admirar os belos trajes de noiva, mordoma e lavradeira, vestidos por lindas minhotas que ostentam peitos repletos de autênticas obras de arte em ouro. A festa continua... tocam as concertinas e os bombos, dançam as lavradeiras... A grandiosa serenata de fogo de artifício ilumina toda a cidade, começando pela ponte de Gustave Eiffel, passando pelo Castelo de Santiago da Barra, até ao Templo - Monumento de Santa Luzia... É um abraço dos Vianenses a todos que nos visitam no mês de Agosto.

A Romaria d’Agonia junta-se à história da igreja d’Agonia. Data de 1674 a história da igreja em honra da padroeira dos pescadores. Na altura, foi edificada uma capela em invocação ao Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário e, um pouco acima, uma capelinha devota a Nossa Senhora da Conceiçã
o.
Informações e Fotos: CM Viana do Castelo (daqui)