Nunca me senti em Casa – Cá em baixo –
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa – eu sei –
Eu não gosto do Paraíso –
Porque é Domingo – sempre –
E o Recreio – nunca chega –
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta feira –
Se, ao menos, Deus fizesse visitas –
Ou Sestas –
E deixasse de nos ver – mas dizem
Que Ele – por um Telescópio
Perpétuo nos olha –
Eu própria fugiria
D’Ele – e do Espírito Santo – e de Todos –
Não fosse o “Juízo Final”!
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa – eu sei –
Eu não gosto do Paraíso –
Porque é Domingo – sempre –
E o Recreio – nunca chega –
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta feira –
Se, ao menos, Deus fizesse visitas –
Ou Sestas –
E deixasse de nos ver – mas dizem
Que Ele – por um Telescópio
Perpétuo nos olha –
Eu própria fugiria
D’Ele – e do Espírito Santo – e de Todos –
Não fosse o “Juízo Final”!
in “Esta é a Minha Carta ao Mundo e Outros Poemas”
(tradução de Cecília Rego Pinheiro)
[Emily Dickinson (1830-1886) é considerada a maior poeta norte-americana.Talvez a maior de língua inglesa. Deixou-nos quase dois mil poemas. Poucos conhecemos, em português. Jorge de Sena abriu o caminho às primeiras traduções, já difíceis de encontrar, Cecília Rego Pinheiro acrescentou uma breve recolha ainda disponível na Assírio & Alvim ("Esta É a Minha Carta Ao Mundo e Outros Poemas").] (Daqui)
Peggy Guggenheim
Marguerite “Peggy” Guggenheim nasceu, em Nova Iorque, a 26 de Agosto de 1898, no seio de uma família abastada. Filha de Florette Seligman (1870-1937), pertencente a uma família banqueira de topo, e de Benjamin Guggenheim (1865-1912) que, juntamente com o pai e os seis irmãos, criou fortuna através do trabalho com metais. O seu pai foi uma das vítimas do naufrágio do Titanic, em Abril de 1912.
Outro familiar que é necessário destacar é o tio Solomon Robert Guggenheim (1861-1949), fundador do Museu com o mesmo nome em Nova Iorque. Foi exatamente nessa cidade que Peggy Guggenheim passou a sua infância e juventude. É em 1921, já casada com Laurence Vail (1891-1968, casam em 1922 e separam-se em 1930; pai dos seus dois filhos) que viaja para a Europa, nomeadamente para Paris. Aqui, desloca-se entre a vida boémia e a sociedade americana expatriada, conhecendo algumas pessoas que se tornariam amigos de longa data, como é o caso de Constantin Brâncuși (1876-1957), Djuna Barnes (1892-1982) e Marcel Duchamp (1887-1968).
É em 1938 que abre a Guggenheim Jeune, uma galeria de arte em Londres. Com 39 anos, dá assim início a uma carreira que vai ter um grande impacto na Arte no pós-guerra.
Amigos como Samuel Beckett (1906-1989) e Duchamp incentivaram Peggy a apostar na Arte Contemporânea, ensinando-lhe a diferença entre os vários estilos e apresentando-a a vários artistas. Nesta galeria, expôs obras de Jean Cocteau (1889-1963), Wassily Kandinsky (1866-1944), Yves Tanguy (1900-1955), Rita Kernn-Larsen (1904-1998), entre outros.
A primeira obra que Peggy Guggenheim comprou foi Head and Shell (c. 1933) do pintor e poeta alemão Jean Arp (1886-1966).
É também nestes anos que volta a instalar-se em Paris e aqui começa a ocupar-se a tempo inteiro da compra de obras de arte, adotando o mote: "Comprar uma obra todos os dias e viver de acordo com isso."
Apesar dos tempos conturbados, adquiriu grandes obras de artistas como Georges Braque (1883-1963), Salvador Dalí (1904-1989), Robert Delaunay (1885-1941), Piet Mondrian (1872-1944), Francis Picabia (1879-1953), Fernand Léger (1881-1955) e Brâncuși.
Com o avançar da guerra, pediu ao Musée du Louvre para esconder a sua coleção, algo que lhe foi negado. Tendo nome judeu, viu-se obrigada a ocultá-lo nos serviços alfandegários para conseguir enviar as suas obras como “itens domiciliários” em segurança para Nova Iorque. Assim, não só conseguiu proteger a sua coleção como também os meios de subsistência dos seus artistas considerados “degenerados” pelo 3º Reich.
Só com o aproximar do exército nazi a Paris é que decide fugir para o sul de França e em Julho de 1941 regressa a Nova Iorque com os seus filhos, o seu agora ex-marido, a esposa e filhos dele, e com o pintor Max Ernst (1891-1976), com quem viria a casar pouco tempo depois, divorciando-se mais tarde, em 1946.
Em Outubro de 1942, inaugura Art of This Century, em Manhattan, New York City, uma galeria com coleção permanente, exposições temporárias e venda de obras, e que cedo se tornou o espaço mais estimulante da arte contemporânea em Nova Iorque, com uma grande inovação ao nível das salas de exposição, com todos os elementos do espaço a relacionarem-se com os estilos e peças aí expostos. Aqui queria mostrar que não tinha preferência entre a Abstração e o Surrealismo, pedindo a colaboração de artistas de ambos os estilos para várias coisas, incluindo a conceção do catálogo.
Até aqui, a coleção de Peggy Guggenheim ia de 1910 a 1942, numa quantidade limitada, mas bastante forte a nível qualitativo: Cubismo, Futurismo, Orfismo, Abstração Europeia (Suprematismo, Construtivismo, De Stijl), pintura Metafísica, Dadaísmo, Surrealismo, Purismo; com obras de vários artistas como Brâncuși, Jean Arp, Alberto Giacometti (1901-1966), Henry Moore (1898-1986), Alexander Archipenko (1887-1964), Henri Laurens (1885-1954), etc.
É também nestes anos que volta a instalar-se em Paris e aqui começa a ocupar-se a tempo inteiro da compra de obras de arte, adotando o mote: "Comprar uma obra todos os dias e viver de acordo com isso."
Apesar dos tempos conturbados, adquiriu grandes obras de artistas como Georges Braque (1883-1963), Salvador Dalí (1904-1989), Robert Delaunay (1885-1941), Piet Mondrian (1872-1944), Francis Picabia (1879-1953), Fernand Léger (1881-1955) e Brâncuși.
Com o avançar da guerra, pediu ao Musée du Louvre para esconder a sua coleção, algo que lhe foi negado. Tendo nome judeu, viu-se obrigada a ocultá-lo nos serviços alfandegários para conseguir enviar as suas obras como “itens domiciliários” em segurança para Nova Iorque. Assim, não só conseguiu proteger a sua coleção como também os meios de subsistência dos seus artistas considerados “degenerados” pelo 3º Reich.
Só com o aproximar do exército nazi a Paris é que decide fugir para o sul de França e em Julho de 1941 regressa a Nova Iorque com os seus filhos, o seu agora ex-marido, a esposa e filhos dele, e com o pintor Max Ernst (1891-1976), com quem viria a casar pouco tempo depois, divorciando-se mais tarde, em 1946.
Em Outubro de 1942, inaugura Art of This Century, em Manhattan, New York City, uma galeria com coleção permanente, exposições temporárias e venda de obras, e que cedo se tornou o espaço mais estimulante da arte contemporânea em Nova Iorque, com uma grande inovação ao nível das salas de exposição, com todos os elementos do espaço a relacionarem-se com os estilos e peças aí expostos. Aqui queria mostrar que não tinha preferência entre a Abstração e o Surrealismo, pedindo a colaboração de artistas de ambos os estilos para várias coisas, incluindo a conceção do catálogo.
Até aqui, a coleção de Peggy Guggenheim ia de 1910 a 1942, numa quantidade limitada, mas bastante forte a nível qualitativo: Cubismo, Futurismo, Orfismo, Abstração Europeia (Suprematismo, Construtivismo, De Stijl), pintura Metafísica, Dadaísmo, Surrealismo, Purismo; com obras de vários artistas como Brâncuși, Jean Arp, Alberto Giacometti (1901-1966), Henry Moore (1898-1986), Alexander Archipenko (1887-1964), Henri Laurens (1885-1954), etc.
Nesta galeria, para além de expor a sua coleção, usava as exposições temporárias como palco para os grandes nomes da arte europeia, mas também para os artistas americanos emergentes como Robert Motherwell (1915-1991), Mark Rothko (1903-1970), Jackson Pollock (1912-1956), entre outros.
Pollock seria exatamente um dos artistas a quem Peggy Guggenheim daria um maior impulso, sendo o primeiro a expor a solo na galeria e cujas obras a colecionadora promovia e vendia ativamente. Foi também ela que comissionou o seu maior Mural (1943). Guggenheim viria a considerar o sucesso do artista americano como uma das suas maiores conquistas.
Mais importante que dar a conhecer a Arte Europeia, Peggy, juntamente com o amigo e assistente Howard Putzel (1898-1945), era uma grande incentivadora do crescente movimento Avant-Garde, em Nova Iorque. O desenvolvimento deste que foi o primeiro estilo artístico americano vai, por isso, buscar grande força à sua coleção.
Mal tem oportunidade de regressar à Europa, Peggy escolhe Veneza como destino, viajando rumo à cidade em 1947. Pouco depois da sua chegada, compra o Palazzo Venier dei Leoni, onde acabaria por passar o resto da sua vida. Esta foi a cidade da vida e do coração da colecionadora, que tinha uma visão peculiar sobre a mesma. Entre várias afirmações, podemos destacar:
Mais importante que dar a conhecer a Arte Europeia, Peggy, juntamente com o amigo e assistente Howard Putzel (1898-1945), era uma grande incentivadora do crescente movimento Avant-Garde, em Nova Iorque. O desenvolvimento deste que foi o primeiro estilo artístico americano vai, por isso, buscar grande força à sua coleção.
Mal tem oportunidade de regressar à Europa, Peggy escolhe Veneza como destino, viajando rumo à cidade em 1947. Pouco depois da sua chegada, compra o Palazzo Venier dei Leoni, onde acabaria por passar o resto da sua vida. Esta foi a cidade da vida e do coração da colecionadora, que tinha uma visão peculiar sobre a mesma. Entre várias afirmações, podemos destacar:
"Assume-se que Veneza é o local ideal para uma lua-de-mel. Este é um erro muito grave. Viver em Veneza ou apenas visitá-la significa que se apaixonam pela própria cidade. Não sobra nada no vosso coração para mais ninguém."
Logo em 1948, enquanto Itália atravessava uma Guerra Civil, expõe a sua coleção na Bienal de Veneza. É a primeira vez que obras de artistas como Pollock, Arshile Gorky (1904-1948) e Rothko são exibidas na Europa. Este ponto aliado à quantidade de obras cubistas, surrealistas e abstratas na coleção, fazem desta exposição uma das mostras modernistas mais coerentes apresentadas no país até então.
Pouco depois, em 1949, organiza uma exposição de escultura contemporânea e, em 1950, a primeira exibição europeia de obras de Pollock.
Em 1962, a cidade nomeia-a Cidadã Honorária de Veneza.
Peggy Guggenheim nunca deixou de comprar obras de arte, apoiando artistas das mais variadas nacionalidades como Edmondo Bacci (1913-1978), Francis Bacon (1909-1992), Kenzo Okada (1902-1982), entre outros.
Este amor e orgulho pela Arte e pela sua coleção fazem com que, em 1951, Peggy decida começar a mostrá-la, bem como a sua casa, ao público.
Em 1969, expõe a sua coleção no museu do tio, em Nova Iorque. A partir daqui, estreita-se a ligação entre os dois mundos, sendo que, em 1970, doa o seu Palazzo e, em 1976, as suas obras à Solomon R. Guggenheim Foundation. Esta Fundação foi criada em 1973 como forma de promover o conhecimento da Arte e estabelecer um ou vários museus.
Max Ernst and Peggy Guggenheim in the gallery ‘Art of This Century’,
New York, ca. 1943, via HuffPost
Peggy Guggenheim morre a 23 de Dezembro de 1979, em Itália.
Após a sua morte, o seu Palazzo tornou-se um dos mais conceituados museus de Arte moderna no mundo: Coleção Peggy Guggenheim.
A sua coleção foi desde logo uma das mais proeminentes coleções de Arte Cubista e Surrealista, numa altura em que estes movimentos não eram tidos em grande consideração por outros colecionadores, incluindo o seu tio.
As obras que reuniu representam o seu gosto e estilo pessoal. Peggy Guggenheim fazia pouca distinção entre a vida pessoal e a profissional, pois, regra geral, os artistas que apoiava e cujas obras expunha se tornaram seus amigos.
As obras que reuniu representam o seu gosto e estilo pessoal. Peggy Guggenheim fazia pouca distinção entre a vida pessoal e a profissional, pois, regra geral, os artistas que apoiava e cujas obras expunha se tornaram seus amigos.
Segundo a neta e curadora Karole Vail (n.1959): "A sua vida e a sua coleção de Arte estavam completamente interligadas."
Apesar da época em que viveu, Peggy Guggenheim não teve problemas em assumir os seus gostos e intenções, quer no mundo da Arte como no mundo das relações pessoais. Fez o seu caminho como uma mulher livre e descomplicada, dando prioridade ao que a fazia feliz, preocupando-se e ajudando quem assim merecia, sem olhar a meios e ao que os outros poderiam dizer, sendo uma pioneira num mundo que ia reclamando mais espaço para as mulheres. Mesmo tendo um gosto artístico específico e limitado a certas épocas e estilos, viveu a Arte como poucos o fazem.
"Olho para a minha vida com grande alegria. Penso que foi uma vida muito bem sucedida. Sempre fiz o que quis e nunca me preocupei com o que os outros pensavam. Libertação das mulheres? Eu era uma mulher livre muito antes de haver um nome para isso." - Peggy Guggenheim (Daqui)
Apesar da época em que viveu, Peggy Guggenheim não teve problemas em assumir os seus gostos e intenções, quer no mundo da Arte como no mundo das relações pessoais. Fez o seu caminho como uma mulher livre e descomplicada, dando prioridade ao que a fazia feliz, preocupando-se e ajudando quem assim merecia, sem olhar a meios e ao que os outros poderiam dizer, sendo uma pioneira num mundo que ia reclamando mais espaço para as mulheres. Mesmo tendo um gosto artístico específico e limitado a certas épocas e estilos, viveu a Arte como poucos o fazem.
"Olho para a minha vida com grande alegria. Penso que foi uma vida muito bem sucedida. Sempre fiz o que quis e nunca me preocupei com o que os outros pensavam. Libertação das mulheres? Eu era uma mulher livre muito antes de haver um nome para isso." - Peggy Guggenheim (Daqui)
Action Painting
O termo Action Painting qualifica em simultâneo uma técnica pictórica e uma corrente artística associada ao movimento do Expressionismo Abstrato, desenvolvido desde os inícios da década de 1940 nos Estados Unidos da América e na Europa, onde se tornou conhecido por Informalismo.
Enquanto movimento pictórico, a Action Painting é geralmente confundida com o Expressionismo Abstrato, do qual constitui somente uma das tendências formais e estéticas, a par do Color field Painting.
O seu nome resulta do título de um artigo publicado pela revista Art News
de dezembro de 1952, "The American Action Painters", escrito pelo poeta
e crítico de arte americano Harold Rosenberg (1906-1978). A grande
divulgadora desta corrente foi a galerista nova iorquina Peggy Guggenheim (1898-1979) que, desde 1942, realiza uma série de exposições
dos trabalhos destes artistas.
A Action Painting, ou pintura gestualista, tem as suas origens mais diretas no movimento surrealista e no desenho automático,
praticado por alguns dos artistas que integravam esta corrente, mais
especificamente pelo pioneiro André Masson (1896-1987), famoso pelos
trabalhos que realiza em meados da década de vinte, sob influência da
psicologia e da psicanálise freudianas e jungianas. A influência deste
artista na cultura artística nova iorquina tornou-se particularmente
forte após a sua ida para os Estados Unidos em 1941.
Mais especificamente, o termo Action Painting aplica-se ao trabalho de poucos pintores, todos saídos do período da pós-depressão nos Estados Unidos, como Jackson Pollock e o seu discípulo Hans Hofmann (1880-1966) cujos trabalhos revelam, desde os anos 40, a preferência pela pintura através do dripping,
técnica que consistia em deixar pingar a tinta sobre uma tela,
geralmente de grande dimensão, colocada na horizontal sobre o chão. Pode
também ser incluída nesta tendência parte da obra dos americanos Arshile Gorky (1904-1948) e de Robert Motherwell (1915-1991).
Estes artistas apresentam como denominador comum o entendimento do
quadro como um palco para a ação artística. A pintura, sempre abstrata,
realiza-se através de amplos gestos (que adquirem o carácter de
coreografias), procurando salientar a intensidade e intencionalidade
estética contida no ato de pintar. É precisamente esta ação livre e sem
obstáculos intelectuais e não tanto o seu produto final (uma imagem
constituída por linhas, manchas, cor e forma), aquilo que deve ser
comunicado ao público. Raramente são realizados estudos prévios,
considerados aniquiladores do processo de desenho automático de cariz
espontâneo.
Tendo tido um desenvolvimento mais forte nos Estados Unidos, em torno da chamada Escola de Nova Iorque, a Action Painting produziu ecos na Europa do pós-guerra. Em França, influenciou, em alguns aspetos, o movimento informalista e o Tachismo,
como o demonstra a linguagem sígnica instantânea e de grande
expressividade do pintor Georges Mathieu . Na Alemanha destaca-se o
trabalho dos pintores Fred Thieler e Karl Otto Götz (que levam o
automatismo e o instinto a um limite máximo) e o Grupo Zen, criado em Munique, que retoma o método e técnicas pictóricas de Jackson Pollock. Em Itália, salienta-se a atividade do grupo de artistas denominado "Movimento Arte Nucleare".
A Action Painting foi precursora de alguns movimentos posteriores, como a Arte Processual dos anos 70. (Daqui)