domingo, 9 de junho de 2024

"Quadras aos Santos Populares" - Poema de Ricardo Maria Louro


Francisco de Zurbarán (Spanish painter, 1598–1664),
  Anthony of Padua, 1627–1630.
 
[Fernando de seu nome de batismo, Santo António de Lisboa, ou Santo António de Pádua, nasceu por volta de 1195, em Lisboa, e morreu a 13 de junho de 1231, em Pádua, na Itália.
Aos vinte anos professou a vida religiosa entre os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Ordenado sacerdote em 1220, fez-se frade franciscano no eremitério de Santo Antão dos Olivais, partindo depois para Marrocos em missão de apostolado aos muçulmanos.
Foi dos mais categorizados representantes da cultura cristã no período de transição da pré-escolástica para a escolástica. Figura notável pela sua erudição, impôs-se também pelo exemplo na pregação solene e doutrinal, na discussão com os hereges e no ensino nas escolas conventuais. Por isso, é ainda hoje considerado uma das personalidades franciscanas mais significativas.
Foi canonizado pelo papa Gregório IX, em 30 de maio de 1233. Em Pádua foi erigida uma conhecida basílica em sua memória, e lá se encontram as suas relíquias.
 (daqui)]
 


Titian (Italian (Venetian) painter of the Renaissance, c. 1488/90–1576),
Saint John the Baptist, c. 1540, Gallerie dell'Accademia, Venice.

[Personagem bíblica e santo do Cristianismo, S. João Baptista terá nascido na Judeia, no ano 2 a. C., e morrido em 30 d. C. Era filho de Zacarias, um sacerdote judaico, e de Isabel, prima de Maria. Introduziu o batismo, como prática na conversão de gentios, cerimónia que mais tarde seria adotada pelo cristianismo.
Surge como um precursor de Jesus Cristo, que veio a batizar, no rio Jordão, e a reconhecer como o verdadeiro messias. Partiu para o deserto para pregar. Censurou Herodes Antipas por ter cometido adultério com a sua cunhada, Herodíade. Foi, por isto, preso e, mais tarde, decapitado, a pedido de Salomé, sobrinha do rei e filha de Herodíade.
(daqui) ]



Peter Paul Rubens (Flemish artist and diplomat, 1577–1640),
 Saint Peter, c. 1610–1612.
 
[São Pedro, discípulo dileto de Jesus Cristo, foi por ele eleito para encabeçar a Igreja e se tornar a sua pedra angular, tendo sido, de facto, o primeiro líder terreno da Igreja. Esta legitimidade, aplicada depois a todos os papas, proveio da seguinte afirmação de Jesus [citada por São Mateus no seu Evangelho (16,17)]: "Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja [...]. Eu te darei as chaves do reino dos Céus e tudo quanto desatares na terra será desatado no céu".
Segundo os Evangelhos, Simão - assim chamado antes de ser chamado ao apostolado -, filho de Jonas (ou João) e irmão de André, terá nascido ao pé do lago Tiberíades (ou Mar da Galileia), onde se tornou pescador. O seu nome posterior, Pedro (que significa pedra), resulta da latinização do nome aramaico Cefas ou Kipha, dado por Jesus.
Era casado, crendo-se que tinha filhos, e vivia em Cafarnaum, sendo pescador no lago de Genesaret.
Seguidor, como seu irmão, de São João Batista e depois de Jesus, tornou-se o primeiro entre os apóstolos, pela sua crença e dedicação.
Pregou a gentes de todos os credos em diversos sítios, entre os quais Antioquia e Jerusalém, não se sabendo com toda a certeza se esteve em Roma e a época exata em que lá terá estado. Contudo, a Primeira Epístola de S. Pedro (c. do ano 64) alude à sua estadia na Babilónia (nome metafórico dado a Roma), assim como os testemunhos escritos de São Inácio de Antioquia, Ireneu de Lyon e de São Clemente Romano. Seria na Via Salaria, na catacumba de Priscila, onde Pedro batizaria e pregaria aos fiéis, segundo a tradição.
São Pedro inaugurou uma sucessão de bispos de Roma (ou papas) que a partir da sua sede romana (chamada de trono de São Pedro) tentaram propagar a nova Fé pelo mundo. Segundo os Evangelhos, estava predestinada a morte supliciada de Pedro, para lançar as raízes do Cristianismo numa cidade corrupta e devassa, uma Babilónia, conforme as suas palavras.
Após o martírio na cruz invertida (64 - 67?), na sequência de uma perseguição de Nero, conta mais tarde o presbítero Gaio (séculos II-III) que São Pedro foi enterrado na colina Vaticana (junto ao Circo do citado imperador), tendo o seu corpo sido furtado no ano de 827. Assim, tudo leva a crer que o sóbrio sepulcro encontrado nas escavações efetuadas na década de 1940 sob a basílica de Constantino (hoje chamada de São Pedro) seja provavelmente o do apóstolo.
São Pedro é usualmente representado com vestes papais ou de apóstolo, com um livro e com uma chave de ouro (representando o Céu e a absolvição) e uma em prata (que simboliza a Terra e a condenação).
(daqui)]
 
 

⁠Quadras aos Santos Populares


Santo António é padroeiro
Da Lisboa d’encantar
Mas São Pedro é o porteiro
De quem no céu quiser entrar!

Santo António milagreiro
Que és um Santo tão Santinho
Dá-me lá mais um dinheiro
Qu’inda sou tão pobrezinho!

Diz a boca do demónio
Destas gentes da intriga
Que outrora o Santo António
Gostou d’uma rapariga!

A ti deixo este meu canto
Oh meu rico Santo António
Não te esqueças deste pranto
E arreda-me o demónio!

Oh meu querido Santinho
Vou fazer o teu altar
Comer pão e beber vinho
Pelas ruas a marchar!

Oh meu lindo São João
Dá-me moças pr’a dançar
Deixo aqui meu coração
A quem o quiser conquistar!

São João os teus cabelos
Tem ondas amarelas
Envoltas em segredos
Já não damos conta delas!

São João dos Caracóis
Procurava uma amada
E mandava os rouxinóis
Cantar uma toada!

São João é do Estoril
Santo António é de Lisboa
O São Pedro é d’águas mil
E o poeta é Pessoa!

O são Pedro tem a chave
Da porta desta festa
Mas se o “homem” não a abre
O Santo António já não presta!

Arraial por toda a parte
E sardinhas pelo pão
O São Pedro que me aguarde
Se estragar o São João!

Se chover no São João
O São Pedro está tramado
Santo António sem perdão
Vai deixá-lo entalado!

Nesta mesa dos artistas
Há gentes que se vejam,
Poetas, músicos, fadistas,
Tantos “santos” que nos beijam!

Temos dias sem sentido
Que nos deixam solidão
Vai a quadra ao manjerico
E a alegria ao coração!

Lá vai o arco e o balão
Pelas ruas sem ter mal
Pois agora a solução
É fazer um arraial!


Ricardo Maria Louro


Ilustração digital de Andreia Santos, 'Noite de Santos'
 


Festas dos Santos Populares

Junho é o mês dos Santos Populares com festas e arraiais por todo o país nas noites de Santo António, de São João e de São Pedro.

As principais são as Festas de Lisboa, de 12 para 13 de junho, dia de Santo António, e as do Porto, na noite de 23 para 24 de junho, quando se celebra o S. João. São festas muito animadas, em que a população vem para a rua comer, beber e divertir-se pelas ruas dos bairros populares, decoradas com arcos, balões coloridos e manjericos.

Em Lisboa, as marchas populares de cada bairro desfilam pela Av. da Liberdade em direção ao Rossio, enchendo a rua de centenas de figurantes, música e cores. Mas a enchente e a animação não são menores nas ruas desses bairros, com destaque para Alfama, mas também para a Graça, Bica, Mouraria ou Madragoa. Nos largos e vielas, come-se caldo verde e sardinha assada, canta-se e dança-se pela noite dentro. Outro momento forte é a procissão de Santo António, que no dia 13 sai da sua igreja, situada em Alfama, junto à Sé, no local onde este santo nasceu, por volta de 1193.

No Porto, a festa é idêntica em cor e alegria nos bairros mais tradicionais, como Miragaia, Fontainhas, Ribeira, Massarelos e outros. Mas nesta cidade há ainda outros usos e costumes: se antigamente os foliões batiam com o alho-porro na cabeça dos companheiros, hoje usam martelinhos de plástico; por outro lado, além do exuberante fogo-de-artifício que é lançado à meia-noite em pleno rio Douro, também se lançam balões de ar quente multicores, numa das mais bonitas celebrações destes festejos populares. A noite acaba para muitos junto à praia, para ver nascer o sol ou para um banho matinal, como manda a tradição.

A 29 de junho comemora-se ainda o São Pedro, também com festas populares em várias localidades do país, como Sintra ou Évora, ambas na lista do Património Mundial. Évora, aliás, tem a particularidade de celebrar dois santos populares, pois realiza desde o séc. XVI a feira de S. João, uma das maiores da região sul de Portugal, comemorando também o dia de S. Pedro como feriado municipal.

Nestas festas resistem práticas como saltar a fogueira e oferecer à namorada ou namorado pequenos vasos de manjerico, acompanhados de quadras escritas, que muitas vezes falam de amor, ou não estivesse a origem destas festividades ligada ao solstício de verão e a antigos rituais de fertilidade. (daqui) 

 

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