quinta-feira, 20 de junho de 2024

"Lume" - Poema de Alfredo Guisado





Lume 


Apagou-se, por fim, o incerto lume,
que, em volta do meu ser, ainda ardia,
e o velho alfange, de inquietante gume,
cortou o voo que meu sonho erguia.

Apagou-se, por fim, o lume incerto...
e fiquei-me entre as urzes, hesitante,
no local que para o além era o mais perto
e para voltar a mim o mais distante.

Abandonada, então, essa charneca,
vestida de silêncio, árida e seca,
rodeou-me a minha alma sonhadora.

Afastei-me. Acabei por me perder:
sem poder atingir o que quis ser
e sem poder voltar ao que já fora.


Alfredo Guisado,
"Ânfora", 1918

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