quinta-feira, 6 de junho de 2024

"O Amor Antigo" - Poema de Carlos Drummond de Andrade



Adrien Moreau
(French genre and historical painter, sculptor and illustrator, 1843–1906),
  The Proposal, 1878, oil on canvas. Clark Art Institute, Williamstown, Massachusetts.
 
 

O Amor Antigo

 
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade,
 in 'Amar se Aprende Amando', 1985
 
 
'Amar se aprende amando' de Carlos Drummond de Andrade.
Capa: Raul Loureiro. Editora: Companhia das Letras


'Amar se aprende amando' permite como nenhum outro livro de Drummond um percurso pelas diferentes formas que o sentimento amoroso assume em sua poética. Do amor sublime àquele que se atinge pelo convívio ideal, da fusão dos amantes em unidade perfeita à celebração da amizade, o que encontramos nos 68 poemas que compõem este volume é o fruto do esforço do poeta em conciliar sentimento e experiência.

Se o amor pode ser aprendido pela prática, como afirma o título do livro, a concretude do quotidiano permeia o sentimento romântico, dando a conhecer a dimensão política deste. Ao anseio do amor ideal somam-se as referências do contexto histórico do país, que vivia sob um regime militar, como deixa claro o poeta nos versos "O feijão é de todos, em princípio,/ tal como a liberdade, o amor, o ar./ Mas há que conquistá-lo a teus irmãos". Inclui posfácio de Fabio Cesar Alves. (daqui)

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