segunda-feira, 3 de junho de 2024

"Um Ninho" - Poema de Afonso Simões



Charles Joshua Chaplin (French painter, 1825 - 1891), 
 Young Girl with a Nest, 1869, Museum of Fine Arts of Lyon.

 

Um Ninho


Sabeis o que é um ninho, esse pequeno lar
Onde a ventura mora em noites de luar,
Onde a brisa suspira e canta a cotovia
Desde o romper da aurora ao declinar do dia?

Sabeis o que é um ninho em dias estivais,
Perdido no rumor dos bastos salgueirais,
À borda dum riacho alegre, saltitante,
Que vai de pedra em pedra até morrer, distante?

Sabeis o que é um ninho inundado de sol,
Onde desperta o melro e dorme o rouxinol?
Não, não sabeis! Pois bem. Juntai toda a ventura
Do vosso lar ditoso: os beijos, a ternura

Duma extremosa mãe, os cuidados dum pai,
Os risos duma irmã que tanto vos distrai,
Um doce olhar de avó, vaidosa no carinho,
E ficareis sabendo o que se chama um ninho.


Afonso Simões (1866-1947), em “Folhas em Branco”, 1914
Imprensa Libanio da Silva
 

Charles Joshua Chaplin, The Bird's Nest, 1860, Private collection.


"Uma imagem vale mais que mil palavras."

"A mulher e o passarinho, com Sol ao ninho."

"Cada passarinho gosta do seu ninho."



(Provérbios portugueses)


Charles Joshua Chaplin, Feeding Doves, Private collection.


"A natureza dá a vida, mas a vida ensina a viver."

"Quem passarinhos receia, milho não semeia."

"Aves da mesma pena andam juntas."


 
 
Charles Joshua Chaplin, Young Girl with a Dove, 1850,
 Private collection.
 
 
Pomba branca, pomba branca


Pomba branca, pomba branca
Já perdi o teu voar
Naquela terra distante
Toda coberta pelo mar

Fui criança, andei descalço
Porque a terra me aquecia
Eram longos os meus sonhos
Quando a noite adormecia

Vinham barcos dos países
Eu sorria, de os sonhar
Traziam roupas, felizes
As crianças dos países
Nesses barcos a chegar

Depois mais tarde ao perder-me
Por ruas de outras cidades
Cantei meu amor ao vento
Porque sentia saudades

Saudades do meu lugar
Do primeiro amor da vida
Desse instante a aproximar
Dos campos, do meu lugar
À chegada e à partida
  (Poeta, ator, encenador, declamador e radialista português, 1924 - 1980) 



Max
- Pomba Branca, Pomba Branca


Max
 
Fadista, ator e músico popular, Maximiano de Sousa nasceu a 20 de janeiro de 1918, no Funchal, faleceu a 29 de março de 1980, em Lisboa. É o mais famoso músico madeirense a nível nacional e internacional.
Apaixonou-se pelo fado logo em criança. Alimentava o sonho de ser barbeiro, numa altura em que os salões por vezes se transformavam em autênticas tertúlias fadistas. A morte do pai, aos 14 anos, forçou-o a começar cedo a trabalhar. Seguiu o ofício de alfaiate, nunca deixando, de forma amadora, de se dedicar ao fado. Aos 16 anos, foi para os Açores, com um grupo de amadores, e ali permanece dois anos a cantar. De regresso à Madeira, começou a atuar aos fins de semana em clubes locais e boites, não só o fado, mas sobretudo êxitos da música ligeira internacional, em locais como o Hotel Bela Vista. Aos 25 anos integrou o Conjunto Tony Amaral, desempenhando as funções de vocalista e baterista.
Em 1946, partiu para Lisboa onde cimentou a sua carreira. Inicialmente, com o Conjunto Tony Amaral, em locais como o Clube Americano e o Nina. Foi com este grupo que gravou o seu primeiro disco, em 1949. Depois, ganhou notoriedade a solo, e construiu uma carreira muito profícua e aplaudida, dividindo-se entre o fado e canções populares e humorísticas. A sua popularidade levou-o também ao teatro de revista, a partir de 1952, tendo participado em peças como Saias Curtas, Cala o Bico, Peço a Palavra, Mão à Obra e Mulheres à vista.
Teve uma longa carreira internacional, com concertos na Alemanha, Brasil, Canadá, Austrália, Argentina, Venezuela, Espanha e Áustria. Mas com principal destaque nos Estados Unidos, onde viveu mais de dois anos, e chegou a participar no programa de Gourucho Marx na NBC.
Para o seu reportório de música popular, escreveu temas com tal fama que hoje se confundem com a música tradicional madeirense, como é o caso do "Bailinho da Madeira" e da "Mula da Cooperativa". No fado, também escreveu vários temas, que marcam a história da canção de Lisboa. Entre outros, "Vielas de Alfama" (com Artur Ribeiro), "Nem às Paredes Confesso" (com Artur Ribeiro e Ferrer Trindade), "Fiz Leilão de Mim" (com Artur Ribeiro) ou "Lamentos" (com Domingues Gonçalves Costa). E destacou-se na interpretação de outros temas como "A Rosinha dos Limões" (Artur Ribeiro), "A Júlia Florista" (Joaquim Pimentel/Leonor Vilar) ou "Carta de um Soldado" (José Galhardo/Raul Ferrão). Era regularmente acompanhado pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery.
Tem uma extensa discografia, com dezenas de EP, como era hábito na época. Destacam-se as coletâneas, editadas em CD, O Melhor de Max vol. 1 e 2, Biografias do Fado, Pomba Branca, Saudade e Bailinho da Madeira, todas com edição da Emi-Valentim de Carvalho.
Em 1979, o Governo Regional da Madeira homenageou-o num espetáculo que decorreu no Funchal. Max, que sofria do coração, morreu, de forma súbita, no ano seguinte, quando saía de um restaurante, em Lisboa. (daqui)

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