sábado, 1 de junho de 2024

"Todas as Crianças da Terra" - Poema de Sidónio Muralha


Winslow Homer (American landscape painter and illustrator, 1836 –1910), Snap the Whip, 1872,



Todas as Crianças da Terra


Um capacete de guerra tem um ar carrancudo.
Muito mais bela é uma flor.
Uma flor tem tudo
para falar de paz e de amor.

Mas se virarmos o capacete de guerra
ele será um vaso, e é bem capaz
de ter uma flor num pouco de terra
e falar de amor e de paz.

A paz é uma pomba que voa.
É um casal de namorados.
São os pardais de Lisboa
que fazem ninho nos telhados.

E é o riacho de mansinho
que saltita nas pedras morenas
e toda calma do caminho
com árvores altas e serenas.

A paz é o livro que ensina.
É uma vela em alto mar
e é o cabelo da menina
que o vento conseguiu soltar.

E é o trabalho, o pão, a mesa,
a seara de trigo ou de milho,
e perto da lâmpada acesa
a mãe que embala seu filho.

A paz é quando um canhão
muito feio e de poucas falas,
sente bater um coração
e dispara cravos, em vez de balas.

E é o abraço que dás
no dia em que tu partires,
e as gotas de chuva da paz
no balanço do arco-íris.

A paz é a família inteira
na alegria do lar,
bem juntinho, à lareira
quando o inverno chegar.

A paz é a onda redonda
que da praia tem saudades
e muito mais do que a onda
a paz é a vida sem grades.

A paz são aquelas abelhas
que nos dão favos de mel
e todas as papoulas vermelhas
que eu desenho no papel.

Ventoinha, ventarola,
Moinho que faz farinha,
Meninos que vão à escola,
A paz é tua e é minha.

É luar de lua cheia
tocando as casas e a rua,
são conchas, búzios na areia,
a paz é minha e é tua.

É o povo todo unido,
no mundo, de norte a sul,
e é um balão colorido
subindo no céu azul.

A paz é o oposto da guerra,
é o sol, são as madrugadas,
e todas as crianças da terra
de mãos dadas, de mãos dadas,
de mãos dadas.


Sidónio Muralha
, em “Caminho da Poesia”
Antologia de Poesia para Crianças
 
 
“Caminho da Poesia”, Editora: GLOBAL - 1ª edição
Coleção: Antologia de Prosa e Poesia para Crianças


Sinopse

'Caminho da poesia' proporciona ao aluno-leitor o encontro poético com doze escritores da literatura, entre eles Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Guilherme de Almeida, Henriqueta Lisboa, Paulo Leminski, Olavo Bilac, Sidónio Muralha. Este certa vez declarou: Tanto a prosa como o verso para crianças têm que ter ritmo, têm que saber brincar, encaixar as frases umas nas outras, têm que despertar na criança o desejo criativo”.

Um capacete de guerra tem um ar carrancudo. Muito bela é uma flor. Uma flor tem tudo/ para falar de paz e de amor. / Mas se virarmos o capacete de guerra/ ele será um vaso, e é bem capaz / de ter uma flor num pouco de terra/ e falar de amor e de paz.

A leitura destes poemas, construídos com trocadilhos divertidos, humor, sonoridade, recursos gráficos, imagens e metáforas aguçam a fantasia e o caráter lúdico tão presentes no universo infantil. (daqui)
 
 

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