Palmeira
Olho a nobre palmeira, em cujo cimo, a fronde
Se agita a farfalhar; e, ora canta e assobia,
Ora esbraveja, em fúria, ou solta, de onde em onde,
Gemidos de uma atroz, lancinante agonia…
Que alma contraditória em teu cerne se esconde
Que te faz rir, alegre, ou suspirar, sombria?
E a palmeira imperial, humilde, me responde:
– Não sou eu! Quem me agita a fronde é a ventania!
Olho, agora, aos meus pés, uma couve tronchuda
As folhas oscilando em leve movimento,
Para cá, para lá, conforme o vento muda.
– Esta, digo eu, não tem prazer nem sofrimento!
E ela, abrindo num riso a face repolhuda,
Impa de orgulho e diz: — Sou eu quem faz o vento!
Bastos Tigre (1882-1957)
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