Pintura de Antonio Capel
Abdicação
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa, 1913
Pintura de Antonio Capel
“O homem livre é aquele que não tem medo de ir até o fim de seu pensamento!”
(Léon Blum)
Foto de Léon Blum
Léon Blum foi político francês nascido a 8 de abril de 1872, em Paris, e falecido a 30 de março de 1950, em Jouy. Léon Blum era filho de um negociante de têxteis judeu, pertencendo à burguesia da Alsácia (a sua família era originária de Westhoffen). Estudou na Sorbonne, onde se licenciou em Direito. Em 1904 tornou-se jornalista do l'Humanité, onde publicou sobre crítica dramática e literária, e em 1910 integrou o Conselho de Estado, desempenhando o cargo de auditor.
Em 1899 tinha-se tornado militante do Partido Socialista, marcado pelos excessos cometidos durante o processo Alfred Dreyfus, oficial semita. Dividindo-se este partido, no Congresso de Tours (1920) entre a tendência de fidelidade à doutrina francesa (reformista e humanista) e a de influência comunista soviética, Blum, partidário da primeira, combateu ativamente a segunda, tendo-se tornado a personalidade mais relevante na sua fação (o que lhe valeu a inimizade comunista). Entre os anos de 1919 e 1928 e entre 1929 e 1940 foi deputado. De junho de 1936 ao mesmo mês de 1937 e entre março e abril de 1938 foi presidente do Conselho. Enquanto preencheu este posto tomou medidas como o encorajamento das convenções coletivas, a redução do horário semanal de trabalho para quarenta horas, o cumprimento do aumento devido dos ordenados, o pagamento das primeiras licenças de parto e a reforma do conselho geral da Banca de França, de forma a que o Estado passasse a exercer maior controle. O franco foi também desvalorizado, algumas das fábricas que produziam armamento foram nacionalizadas e criadas políticas de ajuda à agricultura. Com a crise financeira de 1937, Léon Blum procurou demitir-se, uma vez que o partido de direita não outorgou poderes absolutos ao governo para fazer face à crise. Contudo, foi-lhe pedido que reocupasse o cargo, em março de 1938, durante uma nova crise. A 7 de abril de 1942 foi condenado a prisão perpétua pelo marechal Pétain, na sequência do julgamento empreendido pelo governo de Vichy depois da rendição da França perante a Alemanha, em 1940, para apurar os responsáveis do descalabro. Esteve preso, sucessivamente, em Bourrassol e nos campos de concentração alemães de Dachau e Buchenwald, sendo libertado em 1945. Dirigiu ainda um governo provisório (18 de dezembro de 1946 a 16 de janeiro de 1947) e empreendeu esforços para a anulação das dívidas contraídas por França.
Léon Blum publicou obras como En lisant: réflexions critiques (1906), Au Théatre (1905-1911) e Du mariage (1907).
Léon Blum. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-05-08].
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