Ruth Rocha nasceu em 2 de março de 1931, em São Paulo. Segunda filha do doutor Álvaro e da dona Esther, ouviu da mãe as primeiras histórias, em geral anedotas de família. Depois foi a vez de Vovô Ioiô incendiar a cabeça da neta com os contos clássicos dos irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen, de Charles Perrault, adaptados oralmente pelo avô baiano ao universo popular brasileiro. Mas foi a leitura de
As reinações de Narizinho e
Memórias de Emília, de Monteiro Lobato, que escancarou de vez as portas da literatura para a futura autora de
Marcelo, marmelo, martelo.
Adolescente, Ruth descobriu a Biblioteca Circulante no centro da cidade Foi um deslumbramento. Seus autores preferidos eram Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Lembra que, aos 13 anos, escreveu um trabalho sobre
A cidade e as serras, de Eça de Queirós, que ajudou a acentuar, e muito, sua paixão pelo universo ficcional.
Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, foi aluna do autor de
Raízes do Brasil, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, com quem viajou, junto com outros estudantes, para Ouro Preto.
Na faculdade conheceu Eduardo Rocha (o “Rocha” da Ruth vem daí), com quem se casou. Viveram juntos por 56 anos, até o falecimento dele, em 2012. Tiveram uma filha, Mariana, inspiração para as primeiras criações da escritora.
Entre 1957 e 1972 foi orientadora educacional do Colégio Rio Branco. Nessa época começou a escrever sobre educação para a revista
Cláudia. Sua visão moderna sobre o tema, bem como o estilo claro e próprio, chamaram a atenção de uma amiga, Sonia Robato, que dirigia a
Recreio, revista voltada para o público infantil. Certo dia, Sonia fez um convite-desafio para Ruth: em tom de brincadeira, trancou a amiga numa sala, dizendo que só saísse de lá com uma história pronta. Assim nasceu
Romeu e Julieta, a primeira de uma série de narrativas originais e divertidas, todas publicadas na
Recreio, que mais tarde Ruth veio a dirigir.
A partir de 1973 trabalhou como editora e, em seguida, como coordenadora do departamento de publicações infanto-juvenis da editora Abril.
Palavras, muitas palavras, seu primeiro livro, saiu em 1976. Seu estilo direto, gracioso e coloquial, altamente expressivo e muito libertador, ajudou — juntamente com o trabalho de outros autores — a mudar para sempre a cara da literatura escrita para crianças no Brasil. Agora, os pequenos leitores eram tratados com respeito e inteligência, sem lições de moral nem chatices de qualquer espécie, numa relação de igual para igual, e nunca de cima para baixo. Além disso, em plena ditadura militar, a obra de Ruth ousava respirar liberdade e encorajava o leitor a enxergar a realidade, sem abrir mão da fantasia.
Depois vieram
Marcelo, Marmelo, Martelo — seu best-seller e um dos maiores sucessos editoriais do país, com mais de setenta edições e vinte milhões de exemplares vendidos —,
O reizinho mandão — incluído na “Lista de Honra” do prémio internacional Hans Christian Anderson —,
Nicolau tinha uma ideia,
Dois idiotas sentados cada qual no seu barril e
Uma história de rabos presos, entre muitos outros.
Em mais de cinquenta anos dedicados à literatura, a escritora tem mais duzentos títulos publicados e já foi traduzida para vinte e cinco idiomas. Também assina a tradução de uma centena de títulos infanto-juvenis, adaptou a
Ilíada e a Odisseia, de Homero, e é co-autora de livros didáticos, como
Pessoinhas, parceria com Anna Flora, e da coleção
O Homem e a Comunicação, parceria com Otávio Roth.
Defensora dos direitos das crianças, sua versão, também em parceria com Otávio Roth, para a
Declaração Universal dos Direitos Humanos teve lançamento na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York, em 1988.
Recebeu prémios da Academia Brasileira de Letras, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, além do prémio Santista, da Fundação Bunge, o prémio de Cultura da Fundação Conrad Wessel, a Comenda da Ordem do Mérito Cultural e oito prémios Jabuti, da Câmera Brasileira de Letras.
A menina que um dia decidiu ler todos os livros hoje tem várias bibliotecas com seu nome — no interior de São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília.
Em 2008, Ruth Rocha foi eleita membro da Academia Paulista de Letras.
Apostando todas as fichas na irreverência, na independência, na poesia e no bom humor, seus textos fazem com que as crianças questionem o mundo e a si mesmas e ensinam os adultos a ouvirem o que elas dizem ou estão tentando dizer. No fundo, o que seus livros revelam é o profundo respeito e o infinito amor de Ruth Rocha pela infância, isto é, pela vida em seu estado mais latente. Pois, como ela mesma diz num de seus belos poemas, “toda criança do mundo mora no meu coração”.
(Daqui) Portugal, à semelhança de vários países, adotou este dia para celebrar o
Dia da Criança com o objetivo de sensibilizar toda a comunidade para os direitos das crianças e para a necessidade de promover uma melhoria das suas condições de vida, tendo em vista o seu pleno desenvolvimento.
Por vezes é difícil distinguir este dia,
1 de junho, do dia
20 de novembro, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o
Dia Universal da Criança, dia em que se celebram dois marcos importantes. A 20 de novembro, de 1959, foi aprovada a
Declaração dos Direitos da Criança. Nesse mesmo dia, mas em 1989, foi adotada, também pela Assembleia Geral da ONU, a
Convenção dos Direitos da Criança, que Portugal ratificou no dia 21 de setembro de 1990.
Não existe uniformização de data para a celebração dos direitos das
crianças, contudo, o seu objetivo será sempre o mais nobre: promover os direitos e o bem-estar de todas as crianças, onde quer que estejam.
(Daqui)