William Kay Blacklock (1872-1924), Sunlight and Shadow, c. 1900
Louvor do Aprender
Aprende o mais simples! Para aqueles
Cujo tempo chegou
Nunca é tarde de mais!
Aprende o abc, não chega, mas
Aprende-o! E não te enfades!
Começa! Tens de saber tudo!
Tens de tomar a chefia!
Aprende, homem do asilo!
Aprende, homem na prisão!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, sexagenária!
Tens de tomar a chefia!
Frequenta a escola, homem sem casa!
Arranja saber, homem com frio!
Faminto, pega no livro: é uma arma.
Tens de tomar a chefia.
Não te acanhes de perguntar, companheiro!
Não deixes que te metam patranhas na cabeça:
Vê com os teus próprios olhos!
O que tu mesmo não sabes
Não o sabes.
Verifica a conta:
És tu que a pagas.
Põe o dedo em cada parcela,
Pergunta: Como aparece isto aqui?
Tens de tomar a chefia.
Bertolt Brecht,
in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela
William Kay Blacklock, Summertime, 1914
"O homem implora a misericórdia de Deus mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um deus. Os animais que sacrificais já vos deram o doce tributo de seu leite, a maciez de sua lã e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam. Ninguém purifica seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal não é possível colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um terá de responder." - Siddhartha Gautama (Buda)
Siddhartha Gautama (Buda), o iluminado, foi um filósofo, professor e líder espiritual, fundador do Budismo. Terá nascido na Índia há cerca de dois mil e quinhentos anos (entre 520 e 480 a. C.), embora alguns eruditos situem esse acontecimento em tempos mais recuados. Pertencia a uma família real da tribo dos Shakya. A sua vinda foi anunciada à sua mãe, a rainha Maya, através de sonhos auspiciosos e, após o seu nascimento, o asceta Devala veio saudá-lo e nele reconheceu os sinais do futuro Buda. Para o prender à vida mundana, o pai de Siddharta Gautama proporcionava-lhe uma vida de luxo e de alegria, protegendo-o da visão da infelicidade humana. O encontro inesperado com a dor, sob a forma da doença, da velhice e da morte, iria contudo conduzi-lo a uma intensa demanda espiritual, abandonando família, mulher e filho. Esta procura assumiu a forma de um rigoroso ascetismo, que implicava jejuns e sofrimentos físicos. Todavia, ao constatar que toda essa mortificação não lhe trazia nenhuma resposta e que, pelo contrário, a debilidade física em que se encontrava o impediria de prosseguir, compreendeu que o verdadeiro caminho se encontrava algures no meio termo entre uma vida de ascetismo extremo e uma busca contínua de prazeres.
Siddharta teria finalmente atingido a Iluminação sentado em meditação debaixo de uma figueira, após o que permaneceu em silêncio durante quarenta e nove dias. Pronunciou o ensinamento que "pôs em movimento a roda do Dharma" (a Lei) diante dos primeiros cinco discípulos, no parque das Corças, em Sarnath. Nesse discurso, proferiu o princípio das Quatro Nobres Verdades: a verdade do sofrimento, a verdade da origem do sofrimento, a verdade do cessar do sofrimento e a verdade do caminho que conduz a esse cessar. Esse ensinamento está na base de todo o pensamento e prática budistas. De acordo com esta conceção, a infelicidade não surge como um fenómeno isolado, fruto do acaso ou do azar, integra-se sim num sistema de causa-efeito. E ao apreender a natureza interdependente de todos os fenómenos, o ser humano é induzido a uma prática não violenta e não nociva. Para quebrar a cadeia infinda de atos negativos que geram infelicidade e originam ainda mais atos negativos, é necessário dissipar os véus da ignorância, que obscurecem a visão da natureza última da realidade.
Siddharta teria finalmente atingido a Iluminação sentado em meditação debaixo de uma figueira, após o que permaneceu em silêncio durante quarenta e nove dias. Pronunciou o ensinamento que "pôs em movimento a roda do Dharma" (a Lei) diante dos primeiros cinco discípulos, no parque das Corças, em Sarnath. Nesse discurso, proferiu o princípio das Quatro Nobres Verdades: a verdade do sofrimento, a verdade da origem do sofrimento, a verdade do cessar do sofrimento e a verdade do caminho que conduz a esse cessar. Esse ensinamento está na base de todo o pensamento e prática budistas. De acordo com esta conceção, a infelicidade não surge como um fenómeno isolado, fruto do acaso ou do azar, integra-se sim num sistema de causa-efeito. E ao apreender a natureza interdependente de todos os fenómenos, o ser humano é induzido a uma prática não violenta e não nociva. Para quebrar a cadeia infinda de atos negativos que geram infelicidade e originam ainda mais atos negativos, é necessário dissipar os véus da ignorância, que obscurecem a visão da natureza última da realidade.
O método de libertação apresentado pelo Buda é chamado Veículo do Buda (Buddhayana) e compreende fundamentalmente dois sistemas ou duas vias: o Veículo Individual ou Hinayana (ou Theravada) e o Veículo Universal ou Mahayana. A principal diferença entre estes dois Veículos está na forma de interpretar o princípio budista do "desinteresse por si próprio" e na aplicação desse princípio. Para os praticantes do Hinayana, a renúncia assume um papel fundamental. Muitos assumem votos e obedecem a regras monásticas. A sua finalidade é a libertação pessoal. O Mahayana fundamenta-se no cultivar de um atitude altruísta, de volição de libertação universal, ou bodhicitta.
O Veículo Tântrico, ou Vajrayana, de tradição tibetana, inclui-se no contexto do Mahayana, acentuando a coordenação subtil entre a mente e o corpo humanos e acelerando esse processo de "desobscurecimento". Cada um destes sistemas é visto como um caminho, um método que conduz à libertação final do sofrimento e não como um fim em si mesmo.
O Buda viveu até à idade de oitenta anos. O seu ensinamento, que consiste num método de descoberta da realidade para além das aparências e de libertação da cadeia de renascimentos sucessivos, está na base do Budismo, e foi coligido em escrituras que compreendem três domínios: os sermões (sutra), a disciplina monástica (vinaya) e os ensinamentos mais profundos (abhidharma).
O budismo possui entre 300 a 400 milhões de adeptos em todo o mundo.
Sidartha Gautama (Buda). In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora
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