Ford Madox Brown, 'Hampstead from my Window', 1857
O Livro da Vida
Absorto, o Sábio antigo, estranho a tudo, lia...
— Lia o «Livro da Vida» — herança inesperada,
Que ao nascer encontrou, quando os olhos abria
Ao primeiro clarão da primeira alvorada.
Perto dele caminha, em ruidoso tumulto,
Todo o humano tropel num clamor ululando,
Sem que de sobre o Livro erga o seu magro vulto,
Lentamente, e uma a uma, as suas folhas voltando.
Passa o Estio, a cantar; acumulam-se Invernos;
E ele sempre, — inclinada a dorida cabeça,—
A ler e a meditar postulados eternos,
Sem um fanal que o seu espírito esclareça!
Cada página abrange um estádio da Vida,
Cujo eterno segredo e alcance transcendente
Ele tenta arrancar da folha percorrida,
Como de mina obscura a pedra refulgente.
Mas o tempo caminha; os anos vão correndo;
Passam as gerações; tudo é pó, tudo é vão...
E ele sem descansar, sempre o seu Livro lendo!
E sempre a mesma névoa, a mesma escuridão.
Nesse eterno cismar, nada vê, nada escuta:
Nem o tempo a dobrar os seus anos mais belos,
Nem o humano sofrer, que outras almas enluta,
Nem a neve do Inverno a pratear-lhe os cabelos!
Só depois de voltada a folha derradeira,
Já próximo do fim, sobre o livro, alquebrado,
É que o Sábio entreviu, como numa clareira,
A luz que iluminou todo o caminho andado..
Juventude, manhãs de Abril, bocas floridas,
Amor, vozes do Lar, estos do Sentimento,
— Tudo viu num relance em imagens perdidas,
Muito longe, e a carpir, como em noturno vento.
Mas então, lamentando o seu estéril zelo,
Quando viu, a essa luz que um instante brilhou,
Como o Livro era bom, como era bom relê-lo,
Sobre ele, para sempre, os seus olhos cerrou...
António Feijó, in 'Sol de Inverno'
"O mal é ninguém ter ainda percebido que o problema para mim consiste apenas em saber de que lado estão os valores da vida. Se os meus valores estivessem trocados, e eu o percebesse, seria eu o primeiro a destrocá-los. Mas não vejo que estejam. E não mudo."
Miguel Torga, in Diário (1948)
"Destrocar" ou "Trocar"?
Quando o nosso objetivo é converter uma nota em moedas, o que devemos dizer?
a) "Trocas-me esta nota?"
b) "Destrocas-me esta nota?"
A forma correta é a da alínea a). Devemos usar o verbo trocar porque destrocar significa "desfazer uma troca".
Assim, podemos dizer:
- Trocas-me esta nota de cinco euros por moedas de um euro?
- Fui à loja outra vez para destrocar o mp3. (= ou seja, anular a troca anterior)
- Vou ao banco destrocar as libras que me sobraram.
Note-se que em contextos informais e mais populares é comum usar-se a forma destrocar, mas deve evitar-se em situações mais formais.
http://www.flip.pt/Duvidas-Linguisticas/Duvida-Linguistica.aspx?DID=2515
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=2747
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