sábado, 20 de agosto de 2022

"O pão de cada dia" - Poema de Thiago de Mello


(The Blessing of the Wheats in Artois), 1857, Musée d'Orsay
 


O pão de cada dia


Que o pão encontre na boca
o abraço de uma canção
construída no trabalho.
Não a fome fatigada
de um suor que corre em vão.

Que o pão do dia não chegue
sabendo a travo de luta
e a troféu de humilhação.
Que seja a bênção da flor
festivamente colhida
por quem deu ajuda ao chão.

Mais do que flor, seja fruto
que maduro se oferece,
sempre ao alcance da mão.
Da minha e da tua mão.


Editora Global 

  

 
'Faz escuro mas eu canto', livro de poemas de Thiago de Mello publicado em 1965, é sempre lembrado por seu autor como seu livro mais querido. Faz Escuro mas Eu Canto resgata os contornos verdadeiros das coisas e das almas - o amor ferido, as cantigas de roda, o açude, a fome, os sem-terra, entre outros. Em sua obra, Thiago de Mello inspira coragem e esperança de dias melhores.
Com a instalação da ditadura militar no Brasil em 1964, os ventos para Thiago não foram nada favoráveis. Na ocasião em que esteve preso, deparou-se com um de seus versos escritos na cela: “Faz escuro mas eu canto/ Porque a manhã vai chegar”. Era o sinal de que sua luta incessante pelo respeito à vida humana encontrava eco e precisava ser levada adiante.
A presente edição de Faz escuro mas eu canto traz carinhoso depoimento de Pablo Neruda, de quem o poeta se tornaria amigo e com quem compartilharia momentos de alegria e de tensão durante o período em que esteve exilado no Chile. 
Escritos num momento em que o Brasil atravessava tempos sombrios, os poemas do livro são tingidos por um sopro renovador que encanta e acalenta o coração inquieto da humanidade. (Daqui)
 
In: Faz escuro mas eu canto, 1999, Bertrand Brasil, 17ª edição.

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=189276 © Luso-Poemas
In: Faz escuro mas eu canto, 1999, Bertrand Brasil, 17ª edição.


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