Pintura de Henri Fantin-Latour
Saldo
Vende-se o que os Judeus não venderam,
o que nem a nobreza nem o crime provaram,
o que o amor maldito
e a honestidade infernal das massas ignoram;
o que nem a ciência nem o tempo reconhecem;
as vozes restauradas,
o despertar fraterno
de todas as energias corais e orquestrais
e suas aplicações instantâneas;
ocasião única de libertar os nossos sentidos!
Vende-se Corpos sem preço,
de qualquer raça,
de qualquer mundo,
de qualquer sexo,
de qualquer descendência!
Riquezas brotando a cada passo!
Saldo de diamantes sem controlo!
Vende-se anarquia para as massas;
satisfação irreprimível
para amadores superiores;
morte atroz para os fiéis e os amantes!
Vende-se casas e migrações,
desportos, magias e confortos perfeitos,
e o ruído,
o movimento e o futuro que eles fazem!
Vende-se aplicações de cálculo
e saltos inauditos de harmonia.
Achados e termos sem suspeita,
entrega imediata,
impulso insensato e infinito
aos esplendores invisíveis,
às delícias insensíveis, —
e seus segredos enlouquecedores
para cada vício
e uma alegria assustadora para a multidão.
Vende-se Corpos, vozes,
a inquestionável opulência imensa,
que nunca será vendida.
Os vendedores têm muitos estoques
para liquidar!
Os viajantes não precisam ter pressa
para entregar as encomendas!
Henri Jean Fantin-Latour, "Roses and Nasturtiums"
"AS ILUMINAÇÕES"
Um dos livros que marcam de maneira mais contundente a modernidade são as Iluminações, de Arthur Rimbaud. Dentre os poemas que o constituem, estão alguns que representam, de maneira paradigmática, a tempestade de desafogo e de fantasia que, segundo Hugo Friedrich, desarticulará o formalismo ainda fortemente presente na poesia do final do século XIX. Tal processo indicia uma mudança de perspectiva com relação aos modos de representação lírica da realidade, evidenciando que a linguagem não é uma simples repetição mimética do real visível.
Para isso, uma das técnicas mais utilizadas por Rimbaud, nesta obra, é a da fusão de imagens - num processo ao mesmo tempo metafórico e metonímico. O poema Marinha é um bom exemplo dela. Eis a sua tradução do original francês:
Marinha
Carros de prata e cobre -
Proas de aço e prata -
Golpeiam a espuma, -
Erguem touceiras de sarças.
As correntes da charneca,
E os sulcos imensos do refluxo,
Correm circularmente para o leste,
Para os pilares da floresta,
Para os fustes do dique,
Cujo ângulo é batido por turbilhões de luz.
Nele o poeta provoca o estranhamento entre o título e a imagem inicial, pois em lugar de barcos o que aparece primeiro são os "Carros de prata e cobre" que, no entanto, também vão sendo novamente confundidos com a metonímia de navios, "proas de aço e prata", tornando assim o texto a união metafórica e tensiva de imagens opostas: barcos são carros. Essa fusão de imagens terrestres e marinhas do carro e do navio - pois ambos "Golpeiam a espuma" - gera então o obscurecimento da realidade visual e do sentido propostos pelo texto. Dessa maneira, sem abandonar os elementos naturais, a obra de Rimbaud estabelece, a tensão "entre mostrar e esconder o mundo visível". (Daqui)
As Flores e os Frutos de Henri Fantin-Latour
Henri Fantin-Latour, "Roses and Cherries"
Henri Fantin-Latour, "Large Vase of Dahlias and Assorted Flowers"
Henri Fantin-Latour, "Basket of White Grapes and Peaches"
Henri Fantin-Latour, "Apples"
Henri Fantin-Latour, "Still Life with Flowers", 1881
Henri Fantin-Latour, "White Carnations"
Henri Fantin-Latour, "Basket of Flowers"
Henri Fantin-Latour, "Bowl of Roses"
Henri Fantin-Latour, "White Roses"
Henri Fantin-Latour, "Roses"
Henri Fantin-Latour, "Spring Flowers"
Henri Fantin-Latour, "Gladiolas and roses"
Henri Fantin-Latour, "White and Pink Roses"
Friedrich Nietzsche escreveu uma coleção de aforismos sobre estética, onde deixou clara sua abordagem da Natureza. Neles, dizia:
"Fecha teu olho corpóreo para que possas antes ver tua pintura com o olho do espírito. Então traz para a luz do dia o que viste na escuridão, para que a obra possa repercutir nos outros de fora para dentro".
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