Ruth Kligman (Newark, 1930-2010)
Morte
Ó morte vai buscar a raiva abençoada
Com que matas o mal e geras novos seres...
Ó morte vai de pressa e traz-me os poderes,
Que eu canso de viver, quero voltar ao nada.
Escorre-me da boca a voz que'inda murmura,
Arranca-me do peito o coração enxangue,
Que eu hei de dar-te em troca os restos do meu sangue
Para o negro festim da tua fome escura...
Ó Santa que eu adoro, ó Virgem d'olhar triste,
Bendita sejas tu, ó morte inexorável,
Pelo mundo a chorar, desde que o mundo existe...
Dá-me do teu licor, quero beber a esmo...
Que eu vivo ao abandono e sou um miserável
Aos tombos pela Vida, em busca de mim mesmo!
Com que matas o mal e geras novos seres...
Ó morte vai de pressa e traz-me os poderes,
Que eu canso de viver, quero voltar ao nada.
Escorre-me da boca a voz que'inda murmura,
Arranca-me do peito o coração enxangue,
Que eu hei de dar-te em troca os restos do meu sangue
Para o negro festim da tua fome escura...
Ó Santa que eu adoro, ó Virgem d'olhar triste,
Bendita sejas tu, ó morte inexorável,
Pelo mundo a chorar, desde que o mundo existe...
Dá-me do teu licor, quero beber a esmo...
Que eu vivo ao abandono e sou um miserável
Aos tombos pela Vida, em busca de mim mesmo!
José Duro, in Fel.
O poeta decadentista José Duro nasceu em 1875, em Portalegre, e morreu em 1899, em Lisboa.
Viveu uma adolescência triste e conturbada, marcada pela tuberculose, doença que o fez sempre viver entre a vida e a morte. Foi aluno da Escola Politécnica de Lisboa e desde cedo começou a frequentar as altas rodas literárias, onde escritores como Victor Hugo, Cesário Verde, Antero de Quental e Charles Baudelaire eram reconhecidos como as grandes personagens literárias da época. Também os jovens simbolistas de Coimbra, como António Nobre, se lhe afiguravam dignos de admiração. De todos estes escritores e poetas, José Duro recebeu profundas influências, as quais se manifestam sob diversas formas na sua escrita.
A obra de José Duro reflete o seu estado de espírito sombrio, que a doença agravava, bem como a sua inserção nas estéticas decadentistas do final do século - das quais terá realizado, porventura, a concretização mais negativista em Portugal. A prostituição, a morte, a tuberculose e o desespero são os temas fulcrais da sua poesia. (Daqui)
Viveu uma adolescência triste e conturbada, marcada pela tuberculose, doença que o fez sempre viver entre a vida e a morte. Foi aluno da Escola Politécnica de Lisboa e desde cedo começou a frequentar as altas rodas literárias, onde escritores como Victor Hugo, Cesário Verde, Antero de Quental e Charles Baudelaire eram reconhecidos como as grandes personagens literárias da época. Também os jovens simbolistas de Coimbra, como António Nobre, se lhe afiguravam dignos de admiração. De todos estes escritores e poetas, José Duro recebeu profundas influências, as quais se manifestam sob diversas formas na sua escrita.
A obra de José Duro reflete o seu estado de espírito sombrio, que a doença agravava, bem como a sua inserção nas estéticas decadentistas do final do século - das quais terá realizado, porventura, a concretização mais negativista em Portugal. A prostituição, a morte, a tuberculose e o desespero são os temas fulcrais da sua poesia. (Daqui)
Red, Black & Silver, obra atribuída ao pintor Jackson Pollock.
[Ruth Kligman, a namorada de Jackson Pollock, afirmou que
o artista pintou Red, Black and Silver em 1956.]
Mistério envolve pintura de Pollock
Há quase 60 anos, uma pequena pintura com redemoinhos e manchas vermelhas, pretas e prateadas simboliza a inimizade entre duas mulheres: Lee Krasner, a viúva de Jackson Pollock, e Ruth Kligman, sua amante. Até sua morte, em 2010, Kligman insistia que a pintura era uma carta de amor para ela, criada por Pollock no verão de 1956, poucas semanas antes de ele morrer em um acidente de carro. Porém, um grupo de especialistas reunido pela fundação criada por Krasner rejeitou a pintura ao autenticar e catalogar as obras de Pollock.
Em novembro, parece que a disputa que viveu mais que as duas mulheres pode finalmente chegar ao fim. Os responsáveis pelo espólio de Kligman afirmaram que testes forenses comparando amostras dos mocassins que Pollock estava usando quando morreu, seus tapetes e o quintal de sua casa haviam ligado a pintura de Pollock a sua casa. Porém, ao invés de resolverem uma disputa, as descobertas simplesmente deram início a outro problema, que coloca as formas tradicionais de determinar se uma obra é verdadeira contra as tecnologias mais novas.
De um lado está Francis V. OConnor, um imponente conhecedor de arte do velho mundo que acredita que a erudição e o olho treinado sejam essenciais para determinar a autenticidade de uma obra. OConnor, um dos editores do catálogo definitivo de Pollock e membro do já desfeito comitê de autenticação da Fundação Pollock-Krasner, afirmou que "Red, Black and Silver" não parece ter sido pintada por Pollock. Do outro lado está Nicholas D. K. Petraco, detetive aposentado de Nova York e perito forense, que examinou a pintura a pedido dos responsáveis pelo espólio de Kligman. Aproximando-se da tela como quem olha para um corpo na cena de um crime, Petraco afirmou que não tinha dúvidas de que a pintura tivesse sido feita na casa de Pollock e estivesse ligada a Pollock. "Já vi casos de pessoas que passaram 20 ou 30 anos na cadeia com menos provas do que temos aqui", afirmou.
Porém, a ciência tem limites. Tintas e papéis podem ajudar a estabelecer a data de um trabalho, ao passo que cabelos e fibras são capazes de determinar onde a obra foi feita. Porém, a origem da obra também precisa ser averiguada. Os conhecedores afirmam que a verdadeira autoria não pode ser estabelecida sem que um especialista avalie a composição e as pinceladas que revelam a verdadeira "assinatura" do artista.
A diferença de opinião pode valer milhões. Sem ser autenticada, "Red, Black and Silver" seria listada como "atribuída a Pollock" e teria um valor inferior a 50 mil dólares, afirmou Patricia G. Hambrecht, da casa de leilões Phillips, que recebeu a pintura em consignação. Se for confirmada a autoria de Pollock, o valor estimado saltaria para mais de um milhão de dólares, afirmou.
O relato de Kligman a respeito da pintura data do verão de 1956, quando ela tinha 26 anos e vivia na casa de Pollock, em East Hampton, Nova York, depois que Krasner, que pegou os amantes na cama, foi embora para a Europa. Pollock passava por graves problemas com o alcoolismo e não pintava havia dois anos. Conforme Kligman descreveu em uma nova introdução para a edição de 1999 de seu livro de memórias, "Love Affair: A Memoir of Jackson Pollock" (Caso de amor: Memórias de Jackson Pollock, na tradução), o artista estava no quintal da casa quando ela trouxe as tintas e pincéis que ele usou. Quando ele terminou de pintar, teria dito: "Aqui está sua pintura, um Pollock só seu". Quando examinou a obra, Petraco, o detetive, procurou sinais de poeira, cabelo, fibras e outros detritos na superfície e abaixo da tinta. O argumento decisivo, segundo ele, foi a descoberta de um pelo de urso polar. Um tapete de urso polar que ficava na sala em 1956 ainda estava no sótão da casa de East Hampton.
OConnor afirmou que pode até ser que a obra tenha sido feita no quintal do artista, mas ele é incapaz de dizer quem a pintou. Exatamente o que aconteceu entre duas pessoas que já morreram em uma tarde há 57 anos talvez seja algo que nem a ciência nem a técnica serão capazes de dizer.
Em novembro, parece que a disputa que viveu mais que as duas mulheres pode finalmente chegar ao fim. Os responsáveis pelo espólio de Kligman afirmaram que testes forenses comparando amostras dos mocassins que Pollock estava usando quando morreu, seus tapetes e o quintal de sua casa haviam ligado a pintura de Pollock a sua casa. Porém, ao invés de resolverem uma disputa, as descobertas simplesmente deram início a outro problema, que coloca as formas tradicionais de determinar se uma obra é verdadeira contra as tecnologias mais novas.
De um lado está Francis V. OConnor, um imponente conhecedor de arte do velho mundo que acredita que a erudição e o olho treinado sejam essenciais para determinar a autenticidade de uma obra. OConnor, um dos editores do catálogo definitivo de Pollock e membro do já desfeito comitê de autenticação da Fundação Pollock-Krasner, afirmou que "Red, Black and Silver" não parece ter sido pintada por Pollock. Do outro lado está Nicholas D. K. Petraco, detetive aposentado de Nova York e perito forense, que examinou a pintura a pedido dos responsáveis pelo espólio de Kligman. Aproximando-se da tela como quem olha para um corpo na cena de um crime, Petraco afirmou que não tinha dúvidas de que a pintura tivesse sido feita na casa de Pollock e estivesse ligada a Pollock. "Já vi casos de pessoas que passaram 20 ou 30 anos na cadeia com menos provas do que temos aqui", afirmou.
Porém, a ciência tem limites. Tintas e papéis podem ajudar a estabelecer a data de um trabalho, ao passo que cabelos e fibras são capazes de determinar onde a obra foi feita. Porém, a origem da obra também precisa ser averiguada. Os conhecedores afirmam que a verdadeira autoria não pode ser estabelecida sem que um especialista avalie a composição e as pinceladas que revelam a verdadeira "assinatura" do artista.
A diferença de opinião pode valer milhões. Sem ser autenticada, "Red, Black and Silver" seria listada como "atribuída a Pollock" e teria um valor inferior a 50 mil dólares, afirmou Patricia G. Hambrecht, da casa de leilões Phillips, que recebeu a pintura em consignação. Se for confirmada a autoria de Pollock, o valor estimado saltaria para mais de um milhão de dólares, afirmou.
O relato de Kligman a respeito da pintura data do verão de 1956, quando ela tinha 26 anos e vivia na casa de Pollock, em East Hampton, Nova York, depois que Krasner, que pegou os amantes na cama, foi embora para a Europa. Pollock passava por graves problemas com o alcoolismo e não pintava havia dois anos. Conforme Kligman descreveu em uma nova introdução para a edição de 1999 de seu livro de memórias, "Love Affair: A Memoir of Jackson Pollock" (Caso de amor: Memórias de Jackson Pollock, na tradução), o artista estava no quintal da casa quando ela trouxe as tintas e pincéis que ele usou. Quando ele terminou de pintar, teria dito: "Aqui está sua pintura, um Pollock só seu". Quando examinou a obra, Petraco, o detetive, procurou sinais de poeira, cabelo, fibras e outros detritos na superfície e abaixo da tinta. O argumento decisivo, segundo ele, foi a descoberta de um pelo de urso polar. Um tapete de urso polar que ficava na sala em 1956 ainda estava no sótão da casa de East Hampton.
OConnor afirmou que pode até ser que a obra tenha sido feita no quintal do artista, mas ele é incapaz de dizer quem a pintou. Exatamente o que aconteceu entre duas pessoas que já morreram em uma tarde há 57 anos talvez seja algo que nem a ciência nem a técnica serão capazes de dizer.
Por Patricia Cohen em 08/12/2013 (Daqui)
Sem comentários:
Enviar um comentário