quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"Este é o verdadeiro amor de que tanto se fala" - Texto de Almeida Garrett


Émile Friant (1863–1932), Les Amoureux (Soir d'automne, Idylle sur la passerelle) 
The Lovers (Autumn Evening), Oil on canvas, 1888
 
 

Este é o verdadeiro amor de que tanto se fala 

 
Estranho e inexplicável sentimento este! Que quando sinto transbordar-me do coração toda esta imensa ventura, acomete-me então um terror grande - parece-me que é impossível ser tão feliz - que o Mundo não comporta esta ventura celeste, e que chegado ao ápice de todas as felicidades já será forçoso declinar. (...) Sucede-te isto também a ti, esposa querida do meu coração? Conheces tu também este tormento, anjo divino?
Ai, Rosa, minha doce Rosa, este que nós sentimos, este é o verdadeiro amor de que tanto se fala, e tão pouco se sabe o que é. São regiões pouco conhecidas em que a cada passo se encontram belezas nunca sonhadas, terrores inexplicáveis, felicidades sem par e tristezas que não têm nome.

(...) Oh! Como se riria de mim quem lesse esta carta, Rosa! - De mim que eles julgam um incrédulo, um cético, e cujas palavras sarcásticas no Mundo não significam senão a mais perfeita indiferença por tudo! Há dois homens em mim, vida desta alma; um é o que veem todos, o que fez a experiência, a sociedade e o conhecimento de suas misérias e nulidades - o outro é o que tu fizeste, é a criação do teu amor, a tua obra, e este vale muito decerto, porque é feito à tua imagem.


Almeida Garrett, in 'Carta a Rosa Barreiras'


Emile Friant, Autoportrait, 1885 


Émile Friant (Dieuze, 16 de Abril de 1863 — Paris, 9 de Junho de 1932) foi um pintor francês. Seus trabalhos foram expostos no Salão de Paris. Ele era conhecido como um professor da arte na Escola de Belas Artes em Paris. Foi condecorado com a Legião de Honra e também foi membro do Instituto de França.
Movimento estético: Realismo


 
  Emile Friant, Interieur d'atelier, 1884


   Emile Friant, Ombres portées, 1891


Amo-te por todas as razões e mais uma


Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'



Joaquim Pessoa

Joaquim Maria Pessoa (Barreiro, 22 de fevereiro de 1948), conhecido por Joaquim Pessoa, é um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica português.


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