Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.
Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.
Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.
Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.
Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.
Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.
Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.
Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.
Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.
José Manuel Krusse Fanha Vicente (Lisboa, 19 de fevereiro de 1951) é um arquiteto, poeta e escritor de literatura infanto-juvenil português.
Júlio Pomar
Retrato de Júlio Pomar por Bottelho
Júlio Pomar, O Gadanheiro, 1945
Na Escola de Belas-Artes do Porto conhece o arquiteto e pintor Fernando Lanhas. Por esta época defende uma arte de intervenção, exemplificada em O Gadanheiro (1945) e, mais tarde, no conhecido O Almoço do Trolha, que ficaria para a História como um símbolo de uma época.
Júlio Pomar, O almoço do trolha, 1946-50, óleo sobre tela, 120 x 150 cm
Durante a prisão em Caxias, consequência da sua atividade militante, retrata o futuro presidente da república Mário Soares, na altura um companheiro de cela.
Júlio Pomar, Retrato de Mário Soares
Nos anos 50 é representado na Bienal de São Paulo e viaja até Espanha e França. Inicia neste período um dos seus numerosos ciclos, o "ciclo do arroz", fase em que se aproxima do chamado realismo socialista. É um dos fundadores da Cooperativa "Gravura" e é representado na Bienal de gravura de Tóquio. Trabalha ainda em cerâmica e em escultura para decoração.
Em 1961 ganha o prémio de Pintura da Fundação Gulbenkian e começa o ciclo das Tauromaquias. Parte para Paris em 1962 como bolseiro da Gulbenkian e dois anos depois faz a sua primeira exposição individual na capital francesa. Participa em inúmeros certames internacionais, nos Estados Unidos e no Japão.
Júlio Pomar - O Luxo, 1979, Tela da série Os tigres
Depois da série dos Tigres, do início dos anos 80, inicia uma reflexão sobre figuras da História portuguesa: Fernando Pessoa, Luís de Camões, Mário de Sá-Carneiro, Fernão Mendes Pinto.
O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian organiza uma exposição antológica da obra do artista, apresentada em Brasília, em São Paulo e no Rio de Janeiro em 1996, e em Lisboa em 1997. Em O Paraíso e outras histórias, exposição integrada no programa de Lisboa 94 - Capital Europeia da Cultura, reúne uma série de trabalhos datados de 1991 a 1994 em que evoca cenas bíblicas e episódios mitológicos sem negligenciar o tom irónico.
Júlio Pomar - Fernando Pessoa
O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian organiza uma exposição antológica da obra do artista, apresentada em Brasília, em São Paulo e no Rio de Janeiro em 1996, e em Lisboa em 1997. Em O Paraíso e outras histórias, exposição integrada no programa de Lisboa 94 - Capital Europeia da Cultura, reúne uma série de trabalhos datados de 1991 a 1994 em que evoca cenas bíblicas e episódios mitológicos sem negligenciar o tom irónico.
Júlio Pomar - D. Quixote
Nos anos 90 Júlio Pomar reparte o seu tempo entre Paris e Lisboa. A galeria Piltzer, na exposição "Les Joies de Vivre", patente ao público em Paris de 12 de dezembro de 1997 a 29 de janeiro de 1998, apresenta 6 trípticos e 2 quadrípticos em que os temas mitológicos, a personagem de D. Quixote ou o percurso do artista por terras brasileiras servem de pretexto para a exaltação do prazer dos sentidos.
Para além de pintor, Pomar revelou-se como poeta na "International Poetry Magazine" em 1973, estando os seus poemas reunidos no livro Alguns Eventos, editado pela D. Quixote em 1992. Em Da Cegueira dos Pintores (edição portuguesa - 1986) publica ensaios sobre a arte e a criação.
Júlio Pomar - I
Júlio Pomar - II
Júlio Pomar. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-04-21].
Júlio Pomar - I
Júlio Pomar - II
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