sábado, 28 de fevereiro de 2015

"A decadência do coração nos tempos modernos" - Texto de Camilo Castelo Branco


Jan Steen, Fantasy Interior with Jan Steen and the Family of Gerrit Schouten, 1663


A decadência do coração nos tempos modernos


Nestes ruins tempos de material e nauseante industrialismo, a fase do coração é curta, o amor vem temporão, e como que apodrece antes de sazonado. De toda a parte, aos ouvidos do mancebo vem a soada do martelar da indústria. A sociedade, aparelhada em oficina, não dá por ele, se o não vê a labutar e mourejar no veio da riqueza. Títulos, glória, homenagens, regalos, as feições todas da festejada máscara, com que por aqui nos andamos entrudando uns aos outros, só pode ser afivelada com broches de ouro. Dislates do amor empecem o ir direito ao fim. O coração é víscera que derranca o sangue, se com as muitas vertigens o vascoleja demais. Faz-se mister abafar-lhe as válvulas e exercitar o cérebro, onde demora a bossa do cálculo, da empresa, da sordícia gananciosa, e outras muitas bossas filiadas ao estômago, o qual é, sem debate, a víscera por excelência, o luzeiro perene entre as trevas que ofuscam as almas.


Camilo Castelo Branco, in 'Doze Casamentos Felizes (1861)'


Jan Steen, Autorretrato, c. 1670, óleo sobre tela, 73 x 62 cm

Jan Havickszoon Steen (Leiden, c. 1626 — 3 de fevereiro de 1679) foi um pintor neerlandês do século XVII. Percepção psicológica, senso de humor e abundância de cores foram marcas dos seus trabalhos.

Steen nasceu numa família católica rica, que, por várias gerações, administrava uma taverna em Leiden.
Assim como seu contemporâneo mais famoso, Rembrandt van Rijn (1606 - 1669), Jan Steen formou-se na escola de latim da cidade natal. Recebeu lições de pintura do mestre alemão Nikolaus Knüpfer (1603-1660), pintor de cenas históricas e figurativas de Utrecht. A influência de Knupfer pode ser vista no uso que o artista fez da composição e das cores. Outra fonte de influência do pintor foi Adriaen van Ostade (1610 - 1685), especializado em retratar cenas bucólicas, que vivera em Haarlem.

Em 1648, juntou-se aos pintores da Guilda de São Lucas, uma guilda de pintores de Leiden, mas após ter se tornado um ajudante do pintor Jan van Goyen (1596-1656), conhecido por suas paisagens, mudou-se para viver em Haia.

Em 1649, casou-se com Margriet, filha do mestre van Goyen, com quem teve oito filhos. Trabalhou com o sogro até 1654, quando mudou-se para Delft, onde abriu uma cervejaria chamada De Roscam ("O pente"), sem obter muito sucesso. Viveu depois em Warmond de 1656 a 1660 e em Haarlen deste ano até 1670, período que lhe foi especialmente produtivo. Em 1670, após a morte de sua esposa no ano anterior e de seu pai neste ano, retornou para Leiden, onde ficou até o fim de sua vida. Casou-se novamente em 1573 com Maria van Egmont, com quem teve mais um filho. Em 1674, foi escolhido presidente da Guilda de São Lucas.


Jan Steen, The Drawing Lesson, 1665, J. Paul Getty Museum, Los Angeles


Jan Steen, Beware of Luxury (c. 1665)

A vida quotidiana foi um dos principais temas de Steen. Muitas das cenas que retratou eram tão animadas que pareciam caóticas. Em alguns casos, parece sugerir ao espectador que adote uma vida lúdica, embora também moralizante. Muitas de suas obras retratam provérbios e histórias neerlandesas. Usou membros de sua família como modelos e a si próprio em vários autorretratos, onde não demonstra possuir qualquer vaidade. O mais relevante é o Autorretrato com alaúde pertencente hoje ao Museu Thyssen-Bornemisza de Madrid.


Jan Steen, Autorretrato como músico (1660-63).
Jan Steen também pintou  cenas históricas, mitológicas e religiosas, naturezas mortas e paisagens. O seu trabalho foi fonte de inspiração para muitos outros artistas que o sucederam. (Wikipédia)


Jan Steen, Wedding of Sarah and Tobias. c. 1660. Oil on canvas, 81 x 123 cm. Museum Bredius.

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