David Adickes (American b. 1927), Quartet, 1987
O sensacionista
Neste crepúsculo das disciplinas, em que as crenças morrem e os cultos se cobrem de pó, as nossas sensações são a única realidade que nos resta. O único escrúpulo que preocupe, a única ciência que satisfaça são os da sensação.
Um decorativismo interior acentua-se-me como o modo superior e esclarecido de dar um destino à minha vida. Pudesse a minha vida ser vivida em panos de arras do espírito e eu não teria abismos que lamentar.
Pertenço a uma geração — ou antes a uma parte de geração — que perdeu todo o respeito pelo passado e toda a crença ou esperança no futuro. Vivemos por isso do presente com a gana e a fome de quem não tem outra casa. E, como é nas nossas sensações, e sobretudo nos nossos sonhos, sensações inúteis apenas, que encontramos um presente, que não lembra nem o passado nem o futuro, sorrimos à nossa vida interior e desinteressamo-nos, com uma sonolência altiva, da realidade quantitativa das coisas.
Não somos talvez muito diferentes daqueles que, pela vida, só pensam em divertir-se. Mas o sol da nossa preocupação egoísta está no ocaso, e é em cores de crepúsculo e contradição que o nosso hedonismo escrupuliza.
Convalescemos. Em geral somos criaturas que não aprendemos nenhuma arte ou ofício, nem sequer o de gozar a vida. Estranhos a convívios demorados, aborrecemo-nos em geral dos maiores amigos, depois de estarmos com eles meia hora; só ansiamos por os ver quando pensamos em vê-los, e as melhores horas em que os acompanhamos, são aquelas em que apenas sonhamos que estamos com eles. Não sei se isto indica pouca amizade. Porventura não indica. O que é certo é que as coisas que mais amamos, ou julgamos amar, só têm o seu pleno valor real quando simplesmente sonhadas.
Não gostamos de espectáculos. Desprezamos actores e dançarinos. Todo o espectáculo é a imitação degradada do que havia apenas de sonhar-se.
Indiferentes — não de origem, mas por uma educação dos sentimentos que várias experiências dolorosas em geral nos obrigam a fazer — a opinião dos outros, sempre corteses para com eles, e gostando deles mesmo, através de uma indiferença interessada, porque toda a gente é interessante e convertível em sonho, em outras pessoas, passamos (...)
Sem habilidade para amar, antecansam-nos aquelas palavras que seria preciso dizer para se tornar amado. De resto, qual de nós quer ser amado? O «on le fatigait en l'aimant» de René não é o nosso rótulo justo. A própria ideia de sermos amados nos fatiga, nos fatiga até ao alarme.
A minha vida é uma febre perpétua, uma sede sempre renovada. A vida real apoquenta-me como um dia de calor. Há uma certa baixeza no modo como apoquenta.
Bernardo Soares (Heterónimo de Fernando Pessoa), in Livro do Desassossego - Sentir. Vol.II.
Obras de David Adickes
David Adickes, Cubist Philosopher, acrylic on canvas.
David Adickes, Trumpeter (Harlequin), oil on canvas.
David Adickes, Man Coming out of Shadows, acrylic on canvas.
David Adickes, Three Against Bright Blue
David Adickes, Musician figures (Two with Bird and Guitar)
David Adickes, Bullfighter, c. 1965, oil on canvas.
David Adickes, Artist with Cubist Leanings
David Adickes, Gold Village, 1967
Row of presidential sculptures by David Adickes,
Pearland, Texas. Photo: David Pancamo
Adickes cleaning President Obama's ear. Photo: AP/ David J. Phillip
David Adickes sculpting George Harrison's eyes at Sculpturworx,
Houston, Texas. Photo: Paul McRae
The Beatles by David Adickes
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