terça-feira, 4 de março de 2014

"Alegria é felicidade imediata" - Texto de Arthur Schopenhauer


Henri Rousseau, The Football players, 1908 (Arte Naïf)
 
 

Alegria é felicidade imediata


Quem é alegre tem sempre razão de sê-lo, ou seja, justamente esta, a de ser alegre. Nada pode substituir tão perfeitamente qualquer outro bem quanto esta qualidade, enquanto ela mesma não é substituível por nada. Se alguém é jovem, belo, rico e estimado, então perguntemos, caso queiramos julgar a sua felicidade, se é também jovial. Se, pelo contrário, ele for jovial, então é indiferente se é jovem ou velho, ereto ou corcunda, pobre ou rico; é feliz. Na primeira juventude, abri certa vez um livro velho e lá estava escrito: «Quem muito ri é feliz, e quem muito chora é infeliz» - uma observação bastante ingénua, mas que não pude esquecer devido à sua verdade singela, por mais que fosse o superlativo de uma verdade evidente. Por esse motivo, devemos abrir portas e janelas à jovialidade, sempre que ela aparecer, pois ela nunca chega em má hora, em vez de hesitar, como muitas vezes o fazemos, em permitir a sua entrada, só porque queremos saber primeiro, em todos os sentidos, se temos razão para estar contentes. Ou ainda, porque tememos que ela nos perturbe nas nossas ponderações sérias e preocupações importantes. Todavia, é muito incerto que elas melhorem a nossa condição; em contrapartida, a jovialidade é ganho imediato. Apenas ela, por assim dizer, é a moeda corrente da felicidade, e não, como o restante, mero talão de banco, porque apenas ela torna imediatamente feliz no presente; por essa razão, é o bem mais elevado para seres cuja realidade tem a forma de um presente indivisível entre dois tempos infinitos. Assim, deveríamos antepor a aquisição e a promoção desse bem a quaisquer outras aspirações.
 
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'


Arte Naïf

Henri Rousseau, Tiger in a Tropical Storm (Surprised!), 1891


O significado de Arte Naïf, também denominada de Arte Primitiva Moderna pode ser interpretado como um tipo de arte simples, desenvolvida por artistas sem preparo e conhecimento das técnicas académicas. É considerada uma arte com elementos sem conteúdo. O termo inglês Naïf pode ser traduzido como ingénuo e inocente, por isso a compreensão simplista. A falta de técnica não retraiu o desenvolvimento desta arte, que recebeu grande destaque, ao ser valorizada por apreciadores da estética e pessoas comuns.



Henri Rousseau, Old Man Junier's Trap, 1908


A característica da Arte Naïf é o défice de qualidade formal. Os desenhos e grafias não possuem acabamento adequado, com traços sem perspetiva e visível deficiência na aplicação de cores, texturas e sombras. A estética desta arte pode ser definida como sem compromisso com a arte real, pois mistura de cores sem estudo detalhado de combinações e as linhas possuem traços sempre figurativos e bidimensionais.


Henri Rousseau, The Sleeping Gypsy, 1897, MoMA, New York


Arte Naïf é a arte sem escola ou aprendizado técnico. O artista parte de suas experiências próprias e as expõe de uma forma simples e espontânea. Esta estética não pode ser enquadrada em tendências modernistas, sobretudo na arte popular, pois foge a regra. Ao analisar a construção deste tipo de arte, é possível verificar que o artista utiliza experiências pessoais, oriundas de sua convivência com o meio e cultura geral, sendo assim, há uma pequena esfera cultural embutida na Arte Naïf. Mesmo assim, estudiosos deste conceito, a comparam a um tipo de arte primitiva e infantil, sem sofisticação ou requinte sistemático.


Henri Rousseau, Le Moulin (The Mill), c. 1896, Musée Maillol, Paris


Afirma-se que este tipo de arte possui liberdade estética e pode ser resumida como uma arte livre de convenções. Críticos dizem que em termos gerais, a Arte Naïf é concebida por artistas que pintam com a alma, diferente da arte desenvolvida por artistas académicos, que pintam apenas com o cérebro, não expressando sentimento.


Henri Rousseau, The Dream, 1910, óleo sobre tela, 204,5 x 298,5 cm
O ícone da Arte Naïf é Henri Rousseau, pintor especialista em cores, considerado por muitos como precursor da corrente e principal artista.


Henri Rousseau, Self-Portrait, 1890, National Gallery, Prague


Henri Rousseau não possuía educação geral, nem tão pouco conhecimento em arte ou pintura. Ao levar a público, sua primeira obra denominada "Um dia de carnaval", no Salão dos Independentes, o artista foi severamente criticado por ignorar princípios básicos de geometria e perspetiva. A obra retratava paisagens selvagens mescladas a um emaranhado de tramas, as quais remetem a sonhos e sentimentos do artista. Mas seu reconhecimento só se fez valer no século XX, após ser admirado por Pablo Picasso, Guillaume Apollinaire, Robert Delaunay e Alfred Jarry, além de renomados intelectuais. Relatos comprovam que sua obra foi reconhecida na França (Paris) e através de sua obra, a Arte Naïf influenciou e embasou a corrente estética do Surrealismo de Salvador Dali, no ano de 1972. 
Fonte: Anna Adami, in InfoEscola


Henri Rousseau, The Centennial of Independence, 1892, oil on canvas, Getty Center
 

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