sexta-feira, 14 de março de 2014

"Antes do nome" - Poema de Adélia Prado


Luigi Amato (italian painter, 1889-1961)


Antes do nome


Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível
muleta que me apoia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.


Pintura de Luigi Amato


«Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela...»

Pintura de Luigi Amato


"A intimidade desta vida de aldeia é um espetáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi."

Miguel Torga, Diário (1936)


Pintura de Luigi Amato


"Um dos meus sete pecados mortais: a sede de amor absoluto que me devora."

Miguel Torga, Diário (1938)


Pintura de Luigi Amato


"Quando um homem tem dentro de si uma verdade que quer ouvidos, até peixes lhe servem para auditório. Santo António que o diga..."

Miguel Torga, Diário (1941)


Pintura de Luigi Amato


"A vida à beira-mar, para um escritor, tem a desvantagem de o fazer esquecer o mundo. É tão absorvente e tão embalador este ritmo contínuo das ondas, que se perde a memória do resto."

Miguel Torga, Diário (1948)


Pintura de Luigi Amato


"Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e que natural é ter um amigo!"

Miguel Torga, Diário (1935)


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