Ossos enxutos de repente as mãos
sobre o repousado peito entrelaçadas
como quem adormeceu
à sombra de uma quieta
e morosa árvore de copa alargada.
Dos olhos direi que abertos
para dentro me parecem
não os verei mais de agitação ansiosa
e húmido afago brandos no seu ferver
de amor avarento agora tão acalmados também
tão de longe observando incrédulos e astuciosos
a escura gente de roda com ladainhas de
abjuradas mágoas.
Julgo ouvir a chuva no tépido pinhal
mas pode ser engano
ainda há pouco o vento limpara o céu anoitecido
por entre o sussurro do lamuriado tédio
alguém se aproxima em bicos dos pés
por entre hortências ou dálias
de ambas minha mãe gostava
as ratazanas heréticas perseguem-se no sótão
como no tempo de não sei quando
os estalidos de madeira seca
no tecto antigo que os bichos mastigam aplicadamente
enquanto as velas agónicas se revezam
uma a uma dançando no sereno rosto que dorme
sem precisar de dormir tão perto o rosto e tão ausente
tão da vida agreste aliviado
as pessoas vão repartindo ais estórias lembranças
vão repartindo haveres e contos largos
enquanto no barco do tempo o morto se afasta
solene e majestático mesmo que o medo
o persiga até ao limite das águas.
Mais tarde o rito fecha-se nas velas consumidas
já o morto irá por terras afastadas
a sacola de viandante aos ombros
recomeçando solitário a viagem inacabada.
À casa que teve darei um nome
das hortências ou das dálias não sei como chamar-lhe
de ambas minha mãe gostava.
Fernando Namora, in 'Nome Para Uma Casa'
Olof Arborelius (Swedish, 1842–1915), Krackelyr
"Todos imos embarcados na mesma nau, que é a vida, e todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo."
Sermões
Olof Arborelius (Swedish, 1842–1915)
"Não há poder maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba."
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