segunda-feira, 5 de junho de 2017

"Testamento do homem sensato" - Poema de Carlos Pena Filho




Testamento do homem sensato


Quando eu morrer, não faças disparates 
nem fiques a pensar: «Ele era assim...» 
mas senta-te num banco de jardim, 
calmamente comendo chocolates. 

Aceita o que te deixo, o quase nada 
destas palavras que te digo aqui: 
foi mais que longa a vida que eu vivi, 
para ser em lembranças prolongada. 

Porém, se, um dia, só, na tarde em queda, 
surgir uma lembrança desgarrada, 
ave que nasce e em voo se arremeda, 

deixa-a pousar em teu silêncio, leve 
como se apenas fosse imaginada, 
com uma luz, mais que distante, breve. 


Carlos Pena Filho, in 'Livro Geral', 1959

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