Edvard Munch (Norwegian painter, 1863–1944), Dance on the Shore, 1900.
Ode ao dia feliz
Desta vez deixai-me
Desta vez deixai-me
ser feliz,
não aconteceu nada a ninguém,
não estou em nenhum sítio,
acontece somente
que sou feliz,
de coração pleno, quer
andando, dormindo ou escrevendo.
Que hei de eu fazer, sou
feliz,
sou mais vasto
do que a erva
nas planícies,
sinto a pele como uma árvore rugosa,
a água em baixo,
os pássaros em cima,
o mar como um anel
à roda da minha cintura,
a terra feita de pão e de pedra
e o ar cantando como uma guitarra.
Ao meu lado na areia
tu és areia,
cantas e és canto,
o mundo
é hoje a minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje a tua boca,
deixa-me ser feliz
na tua boca e na areia,
ser feliz porque se eu respiro
é a ti que o devo,
ser feliz porque acaricio
os teus joelhos
e é como se acariciasse
a pele azul do céu
e a sua frescura.
não aconteceu nada a ninguém,
não estou em nenhum sítio,
acontece somente
que sou feliz,
de coração pleno, quer
andando, dormindo ou escrevendo.
Que hei de eu fazer, sou
feliz,
sou mais vasto
do que a erva
nas planícies,
sinto a pele como uma árvore rugosa,
a água em baixo,
os pássaros em cima,
o mar como um anel
à roda da minha cintura,
a terra feita de pão e de pedra
e o ar cantando como uma guitarra.
Ao meu lado na areia
tu és areia,
cantas e és canto,
o mundo
é hoje a minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje a tua boca,
deixa-me ser feliz
na tua boca e na areia,
ser feliz porque se eu respiro
é a ti que o devo,
ser feliz porque acaricio
os teus joelhos
e é como se acariciasse
a pele azul do céu
e a sua frescura.
Hoje deixai-me
ser feliz
sozinho,
com todos e ninguém,
ser feliz
com a erva
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com a tua boca,
ser feliz.
Pablo Neruda, in Odes Elementares,
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1977.
Tradução de Luis Pignatelli
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