Henri Matisse (French visual artist, 1869–1954), "Luxe, Calme et Volupté"
("Luxury, Calm and Pleasure"), 1904. Oil on canvas, 98.5 cm × 118.5 cm,
Musée d'Orsay, Paris, France.
[The painting's title comes from the poem L'Invitation au voyage, from Charles Baudelaire's volume Les Fleurs du mal (The Flowers of Evil).]
O convite à viagem
Minha doce irmã,
Pensa na manhã
Em que iremos, numa viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis orvalhados
Desses céus nublados
Para mim guardam o encanto
Misterioso e cruel
De teu olho infiel
Brilhando através do pranto.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Os móveis polidos,
Pelos tempos idos,
Decorariam o ambiente;
As mais raras flores
Misturando odores
A um âmbar fluido e envolvente,
Tetos inauditos,
Cristais infinitos,
Toda uma pompa oriental,
Tudo aí à alma
Falaria em calma
Seu doce idioma natal.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Vê sobre os canais
Dormir junto aos cais
Barcos de humor vagabundo;
É para atender
Teu menor prazer
Que eles vêm do fim do mundo.
- Os sanguíneos poentes
Banham as vertentes,
Os canis, toda a cidade,
E em seu ouro os tece;
O mundo adormece
Na tépida luz que o invade.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Charles Baudelaire, in "As flores do mal".
Pensa na manhã
Em que iremos, numa viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis orvalhados
Desses céus nublados
Para mim guardam o encanto
Misterioso e cruel
De teu olho infiel
Brilhando através do pranto.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Os móveis polidos,
Pelos tempos idos,
Decorariam o ambiente;
As mais raras flores
Misturando odores
A um âmbar fluido e envolvente,
Tetos inauditos,
Cristais infinitos,
Toda uma pompa oriental,
Tudo aí à alma
Falaria em calma
Seu doce idioma natal.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Vê sobre os canais
Dormir junto aos cais
Barcos de humor vagabundo;
É para atender
Teu menor prazer
Que eles vêm do fim do mundo.
- Os sanguíneos poentes
Banham as vertentes,
Os canis, toda a cidade,
E em seu ouro os tece;
O mundo adormece
Na tépida luz que o invade.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Charles Baudelaire, in "As flores do mal".
Edição bilingue. Tradução de Ivan Junqueira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Charles Baudelaire, "As flores do mal".
Edição bilingue. Tradução de Ivan Junqueira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
L’invitation au voyage
Mon enfant, ma soeur,
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble!
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble!
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
— Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Charles Baudelaire, "Les Fleurs du mal"
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble!
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble!
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
— Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Charles Baudelaire, "Les Fleurs du mal"
(1857 - 1861 - 1868)
Editora: Penguin-Companhia
Tradução: Júlio Castañon Guimarães
Resumo
Edição bilíngue de um dos mais influentes livros de poemas da modernidade. Obra poética completa de Baudelaire em nova tradução.
Grafado pelo autor originalmente com letra maiúscula, o “Mal” de Baudelaire é um conceito, uma perceção que perpassa a sua obra e expõe o caráter humano. Livro inovador, que nas palavras de Marcel Raymond e Paul Valéry funda uma espécie de “movimento poético contemporâneo”, As flores do mal foi responsável por uma escandalosa transformação da literatura mundial ao misturar estilos elevados e populares, influenciando escritores como André Gide, Marcel Proust, James Joyce, Thomas Mann, entre outros.
A primeira edição, publicada em 1857, quando Baudelaire tinha 36 anos, logo se torna objeto de um processo judicial que culmina na proibição de seis poemas. A segunda edição, de 1861, suprime os poemas censurados e inclui outros 35. O poeta — também tradutor de Edgar Allan Poe e crítico de arte — foi alvo de discórdia também nos círculos literários. Conhecido por encarar a vida com uma paixão enfastiada, Baudelaire transformou o universo a sua volta em uma poesia forte, visceral e por vezes perniciosa.
Este volume bilíngue reúne toda a poesia de Baudelaire: As flores do mal tal como publicado em 1861 e os poemas acrescidos à edição póstuma de 1868, em uma edição especial que demonstra toda a potência de um autor ainda hoje “maldito”. (daqui)
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