Crioulo
Há em ti a chama que arde com inquietação
e o lume íntimo, escondido, dos restolhos
— que é o calor que tem mais duração.
A terra onde nasceste deu-te a coragem e a resignação.
Deu-te a fome nas estiagens dolorosas.
Deu-te a dor para que nela
sofrendo, fosses mais humano.
Deu-te a provar da sua taça o agridoce da compreensão,
e a humildade que nasce do desengano...
E deu-te esta esperança desenganada
em cada um dos dias que virão
e esta alegria guardada
para a manhã esperada
em vão...
Manuel Lopes,
Poeta, ensaísta, jornalista e pintor cabo-verdiano, Manuel Lopes nasceu a 23 de dezembro de 1907, na ilha de S. Nicolau, Cabo Verde, e faleceu a 25 de janeiro de 2005, em Lisboa.
Estudou em Coimbra e em S. Vicente, para onde regressou em 1923. Os
seus primeiros trabalhos literários foram publicados em 1927, no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, tendo ganho o respetivo concurso de prosa anual. Entre 1931 e 1933, colaborou nos jornais locais Notícias de Cabo Verde e Ressurgimento. Em 1932, integrou o grupo de intelectuais que viria a fundar a revista Claridade quatro anos depois.
Por razões de ordem profissional, foi viver para a ilha açoriana do
Faial, em 1944, publicando aí o seu primeiro livro de poemas. Durante os
onze anos que lá residiu, fez duas exposições de pintura com trabalhos
seus e ajudou a constituir o Núcleo de Cultura da Horta. Fixou-se em
Portugal em 1955, onde deu a conhecer ao público as suas principais
obras de ficção: Chuva Braba (que venceu o Prémio «Fernão Mendes Pinto», 1956), O Galo cantou na Baía (Prémio «Fernão Mendes Pinto», 1959) e Os Flagelos do Vento Leste (Prémio «Meio Milénio do Achamento das Ilhas de Cabo Verde», 1960). Chuva Braba
constitui, sem dúvida, o romance mais marcante da sua obra, pelo estilo
direto e coloquial, e também pelas personagens simples e reveladoras da
pureza cabo-verdiana. A obra foi traduzida para diversas línguas.
Manuel Lopes é também autor de ensaios, entre os quais se destacam Os Meios Pequenos e a Cultura (1951) e As Personagens de Ficção e Seus Modelos (Separata de «Comunidades Portuguesas», 1973).
Por outro lado, através de obras como Poemas de Quem Ficou (1949) e Crioulo e Outros Poemas (1964), Manuel Lopes dá a conhecer a sua vertente poética. (daqui)
José Agustín Arrieta, Escena de Mercado: La Sorpresa (The Surprise), 1850.
Museo Nacional de Historia
Sem comentários:
Enviar um comentário