Susan Macdowell Eakins (American painter and photographer, 1851–1938),
Portrait of Thomas Eakins, posthumous, c. 1920-25, oil on canvas, 127 x 101.6 cm.
Philadelphia Museum of Art
Carta
Lanço as palavras ao papel
como pescador calmo
lança os barcos ao rio.
Só no fundo, no fundo inviolado,
contraio e espalmo
as minhas mãos, mãos de afogado
morrendo à sede.
– Meu amor estou bem –
Quanto te escrevo,
ponho os olhos no teu retrato
pendurado nos ferros da minha cama
para que as palavras tenham o sabor exato
de quem me ouve,
de quem me fala,
de quem me chama.
– Meu amor estou bem –
Ontem vi a Primavera
numa flor cortada dos jardins.
Hoje, tenho nos ombros uma pedra
e um punhal nos rins.
– Meu amor estou bem –
Se a morte vier, querida amiga,
à minha beira, sem ninguém,
hei de pedir-lhe que te diga:
– Meu amor estou bem –
Luís Veiga Leitão, in 'Antologia Poética'
como pescador calmo
lança os barcos ao rio.
Só no fundo, no fundo inviolado,
contraio e espalmo
as minhas mãos, mãos de afogado
morrendo à sede.
– Meu amor estou bem –
Quanto te escrevo,
ponho os olhos no teu retrato
pendurado nos ferros da minha cama
para que as palavras tenham o sabor exato
de quem me ouve,
de quem me fala,
de quem me chama.
– Meu amor estou bem –
Ontem vi a Primavera
numa flor cortada dos jardins.
Hoje, tenho nos ombros uma pedra
e um punhal nos rins.
– Meu amor estou bem –
Se a morte vier, querida amiga,
à minha beira, sem ninguém,
hei de pedir-lhe que te diga:
– Meu amor estou bem –
Luís Veiga Leitão, in 'Antologia Poética'
Escritor português nascido a 27 de maio de 1915, em Moimenta da Beira, e falecido a 9 de outubro de 1987, no Brasil.
Depois de ter concluído os estudos liceais, Luís Maria Leitão, que
adotou mais tarde o pseudónimo Luís Veiga Leitão, desenvolveu diversas
atividades profissionais: foi empregado do comércio, escriturário e
delegado na propaganda de informação farmacêutica. Em 1952, sofreu a
experiência da prisão política sob o regime salazarista, redigindo
mentalmente na cela os poemas que viria a publicar em 1955 num livro com
o título Noite de Pedra, apreendido pela censura. Percorreu o país e alguns países da Europa, inaugurando, em 1957, no Collège International de Cannes, um curso de tradução de Português. Partiu para o Brasil
em 1967 e aí desempenhou várias funções, entre as quais as de redator,
bibliotecário, desenhador, leitor, investigador, autor e locutor de um
programa de televisão sobre a moderna poesia portuguesa, tendo sido
também colaborador de publicações periódicas e conferencista.
Regressando a Portugal apenas em 1977, fixou residência no Porto. Colaborou nas publicações Seara Nova, Vértice, entre outras, e co-dirigiu, com Egito Gonçalves, Daniel Filipe, Papiniano Carlos, Ernâni Melo Viana e António Rebordão Navarro, Notícias do Bloqueio, uma série de fascículos, publicados no Porto,
entre 1957 e 1961, que reuniam a criação poética de diversos autores,
subordinada, de acordo com o título da publicação, a um intuito comum de
denúncia e combate.
Conhecido sobretudo pela sua vertente de poeta
militante, a obra de Veiga Leitão configura um "lirismo do vivido" (cf.
MARTINHO, F. J. B., ibid., 1996) pela tendência a coincidir nela sujeito de experiência e sujeito lírico, identificação de que Noite de Pedra
constitui um caso modelar. Por outro lado, a aproximação entre poesia e
realidade não se esgota na postura neorrealista, mas abarcará também,
ao longo da sua carreira, o gosto pela inclusão de elementos descritivos
e micronarrativos na versificação de impressões de viagem. (daqui)
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