Soneto a Helena
Quando fores bem velha, à noite, à luz da vela
Junto ao fogo do lar, dobando o fio e fiando,
Dirás, ao recitar meus versos e pasmando:
Ronsard me celebrou no tempo em que fui bela.
E entre as servas então não há de haver aquela
Que, já sob o labor do dia dormitando,
Se o meu nome escutar não vá logo acordando
E abençoando o esplendor que o teu nome revela.
Sob a terra eu irei, fantasma silencioso,
Entre as sombras sem fim procurando repouso:
E em tua casa irás, velhinha combalida,
Chorando o meu amor e o teu cruel desdém.
Vive sem esperar pelo dia que vem;
Colhe hoje, desde já, colhe as rosas da vida.
Pierre de Ronsard (1524-1585)
Tradução de Guilherme de Almeida
In Antologia de poetas franceses: do século XV ao século XX.
(Organização R. Magalhães Júnior; vários tradutores.)
Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1950.
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