sábado, 1 de fevereiro de 2025

"Amor" - Poema de Cruz e Sousa


Jan van Beers (Belgian painter and illustrator, 1852–1927), 
Rendez-vous in the Bois de Boulogne, 1889.
 
 
Amor
 

Nas largas mutações perpétuas do universo
O amor é sempre o vinho enérgico, irritante...
Um lago de luar nervoso e palpitante...
Um sol dentro de tudo altivamente imerso.

Não há para o amor ridículos preâmbulos,
Nem mesmo as convenções as mais superiores;
E vamos pela vida assim como os notâmbulos
À fresca exalação salúbrica das flores...

E somos uns completos, célebres artistas
Na obra racional do amor — na heroicidade,
Com essa intrepidez dos sábios transformistas.

Cumprimos uma lei que a seiva nos dirige
E amamos com vigor e com vitalidade,
A cor, os tons, a luz que a natureza exige!... 


Cruz e Sousa
, in O Livro Derradeiro 
 
 ["O livro Derradeiro" é uma publicação póstuma que reune diversos poemas de autoria de João da Cruz e Sousa. Contém versos inéditos e outros divulgados pela imprensa. A obra foi lançada em 1945, mas em 1961 ganhou uma nova versão, com a inclusão de outros trabalhos do poeta.]

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