Harold Harvey (British artist associated with the Newlyn School art movement, 1874–1941),
The Longships Lighthouse, Land's End, 1936.
Homens à beira-mar
Nada trazem consigo. As imagens
Que encontram, vão-se delas despedindo.
Nada trazem consigo, pois partiram
Sós e nus, desde sempre, e os seus caminhos
Levam só ao espaço como o vento.
Embalados no próprio movimento,
Como se andar calasse algum tormento,
O seu olhar fixou-se para sempre
Na aparição sem fim dos horizontes.
Como o animal que sente ao longe as fontes,
Tudo neles se cala pra escutar
O coração crescente da distância,
E longínqua lhes é a própria ânsia.
É-lhes longínquo o sol quando os consome,
É-lhes longínqua a noite e a sua fome,
É-lhes longínquo o próprio corpo e o traço
Que deixam pela areia, passo a passo.
Porque o calor do sol não os consome,
Porque o frio da noite não os gela,
E nem sequer lhes dói a própria fome,
E é-lhes estranho até o próprio rastro.
Nenhum jardim, nenhum olhar os prende.
Intactos nas paisagens onde chegam
Só encontram o longe que se afasta,
O apelo do silêncio que os arrasta,
As aves estrangeiras que os trespassam,
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
in "Poesia", 1944.
Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.
Metade da minha alma é feita de maresia.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
in "Poesia", 1944.
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