domingo, 2 de fevereiro de 2025

"Despedida" - Poema de Cecília Meireles



Edward Cucuel (American-born painter painter who lived and worked
 in Germany, 1879–1954), Woman with a Parasol, s.d.



Despedida

 
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
– Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? – Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação…
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra…)

Quero solidão.


Cecília Meireles
, in "Flor de Poemas", 1972.
 
 
Edward Cucuel, East wind, s.d.


"A poesia é o inferno; às vezes também é o paraíso."

Eugénio de Andrade
, em "Rosto Precário"
Porto: Limiar, 1979.

Sem comentários: