sábado, 13 de dezembro de 2014

"A meias" - Poema de João Luís Barreto Guimarães


Ron Hicks, And Then They Exhaled, 2013


A meias


Bebo o meu café enquanto bebes
do meu café. Intriga-me que faças isso.
Se te posso pedir um
(se podes tomar um igual)
porque hás de querer do meu?
Que
não. Que não queres. Escuso
de pedir
que não queres. Então
começo um cigarro e tu fumas
do meu cigarro dizes
«tenho quase a certeza de
não acabar um sozinha» por isso
fumas do meu.
Dá-te gozo esse roubar de
leves goles furtivos
dá gozo participar
do prazer que eu possa ter
contigo
(e entre nós)
dá-se agora tudo
a meias.


João Luís Barreto Guimarães, in «Poesia Reunida»,
Quetzal, Lisboa, 2011

João Luís Barreto Guimarães nasceu no Porto, Portugal, em Junho de 1967. Divide o seu tempo entre Leça da Palmeira e Venade. Publicou 8 livros de poesia, os primeiros sete reeditados em "Poesia Reunida" (2011), a que se seguiu o seu mais recente título "Você está aqui" (2013).


Pintura de Ron Hicks


"Usa a capacidade que tens. A floresta ficaria mais silenciosa se só o melhor pássaro cantasse."



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