O Mar agita-se como um alucinado
O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor...
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.
Dá-lhe um aspeto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!
E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:
Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!
O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor...
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.
Dá-lhe um aspeto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!
E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:
Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!
Sinking of the CSS Alabama, 1922, by Xanthus Smith,
Franklin D. Roosevelt Presidential Library, Hyde Park, New York.
Franklin D. Roosevelt Presidential Library, Hyde Park, New York.
"A guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem para proveito
de pessoas que se conhecem mas não se massacram."
(Paul Valéry)
Paul Valery
Paul Valéry
Poeta, ensaísta, filósofo e crítico francês da escola simbolista, Ambroise-Paul-Toussaint-Jules Valéry nasceu a 30 de outubro de 1871, em Sète (perto de Montpellier), de pai francês e mãe italiana, e morreu a
20 de julho de 1945, em Paris.
Foi aluno do liceu Montpellier, pensou em fazer carreira na Marinha e estudou Matemática, mas acabou por se matricular em Direito. Cultivou o seu interesse pela poesia e arquitetura. No fim do curso, em 1892, foi para Paris. Nesta altura, o seu círculo de amigos eram poetas como Stéphane Mallarmé, André Gide e Gustave Flaubert. De entre os seus ídolos contavam-se Edgar Allan Poe, Joris-Karl Huysmans e Stéphane Mallarmé.
Valéry escreveu bastantes poemas entre
1888 e 1891, muitos dos quais foram publicados em revistas pertencentes
ao movimento simbolista, onde receberam críticas favoráveis.
O seu
desespero e frustração por um amor não correspondido, em 1892, levam-no a
renunciar a todas as preocupações emocionais e a voltar-se para a
"ideologia do intelecto".
A partir de 1894 passou a escrever segundo o
método científico, publicando estes escritos nos famosos Cahiers.
O seu novo ídolo era agora Leonardo da Vinci. Passou a considerar a
literatura como uma perigosa paixão. Inclinou-se então para a matemática
mas voltou a reencontrar a criação artística ao procurar estabelecer a
unidade criadora do espírito com Introduction à la méthode de Léonard de Vinci,
onde contrasta as infinitas potencialidades da mente com a inevitável
imperfeição da ação. Elaborou uma ética puramente intelectual com la Soirée avec M. Edmond Teste, em 1895.
Em 1912, André Gide pressionou-o a rever os seus primeiros escritos para serem publicados. Elaborou então o programa daquilo a que chamou "poesia pura", em que o sentido dependia totalmente da musicalidade.
Em 1917,
publicou la Jeune Parque, considerado o seu melhor poema. Seguiram-se le Cimetière Marin e Album de vers anciens, em 1920 e Charmes em 1922, uma coleção que inclui a sua famosa meditação sobre a morte no cemitério de Sète, onde hoje se encontra o seu túmulo.
Em 1925 foi eleito para a Academia Francesa. A 20 de junho de 1935 foi eleito sócio da classe de letras da Academia das Ciências de Lisboa.
Em 1925 foi eleito para a Academia Francesa. A 20 de junho de 1935 foi eleito sócio da classe de letras da Academia das Ciências de Lisboa.
Para Valéry, os versos devem produzir encantamento e o poeta tem de crer
no poder da palavra e na eficácia do som do vocábulo. Os famosos poemas
de la Jeune Parque e Charmes produziram um encantamento
tal, que em breve muitos os sabiam de cor.
Valéry criou uma nova sintaxe
poética e anexou à literatura o domínio inexplorado da sensibilidade. O
seu lirismo encontra-se também nos livros em prosa. Mais tarde escreveu
vários ensaios e folhetins literários e interessou-se pelas descobertas
científicas e pelos problemas políticos do seu tempo.
Paul Valéry não escreveu poesia após 1922, mas o seu lugar como um dos maiores escritores franceses estava assegurado. Passou a dedicar atenção aos problemas da escrita poética e à sua composição literária, assim como à matemática e à ciência. Tornou-se uma figura pública bastante importante. Encontrava-se com escritores, cientistas e chefes de Estado estrangeiros.
Fortemente interessado pelo estado da física moderna,
Valéry proferiu inúmeros discursos e fez viagens por toda a Europa. (daqui)
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