Descobre a flor que há
na rosa, as coisas
mais para lá do que é
visível. A serrilha
da fotografia magoa
as mãos, quando entrei
pentearam-me, fizeram
incidir o projetor, eu
não sabia que tudo ia
ficar para sempre
Depois repeti algumas
vezes: descobre a flor
que há na rosa, espera
que a adivinhem
sob as pétalas. Olho
a cegonha no álbum,
sorrio quando vejo
os cantos fixados, o nó
da gravata, a seleção
do melhor fundo.
Crescia a voz no quarto
dos sinais, crescia
o vento no quintal
da infância. As folhas
do eucalipto tapavam o ar
do minério, o petromax
dirigia a luz no túnel.
Cada vez mais para dentro
da terra, antes de cada
desabamento eu ouvia
a própria voz: descobre
a flor que há na rosa,
oferece apenas aparência.
Se ao nascer do dia
caminhas na superfície
da terra aguardas
que nada tenha mudado.
Surpresa de ver
o sol, o rosto de sobre quem
te deitas, os dedos
reconhecendo as formas.
Conhecem-te os gestos. Mas
só tu saberás a flor
que há na rosa.
Helder Moura Pereira,
“Uma Flor” (p. 158)
Os Cem Melhores Poemas Portugueses dos Últimos Cem Anos,
José Mário Silva (org.), Companhia das Letras, 1.ª Edição, Novembro 2017
Os Cem Melhores Poemas Portugueses dos Últimos Cem Anos,
José Mário Silva (org.), Companhia das Letras, 1.ª Edição, Novembro 2017
"Não há amor como o primeiro, mesmo que esse primeiro seja o último."
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