sexta-feira, 24 de maio de 2019

"Abrigo" - Poema de Edmundo Bettencourt


Edward Hopper, New York Interior, c. 1921, Whitney Museum of American Art.



Abrigo


Presa da chuva corre a prostituta,
corre presa,
e em frente é a porta aberta do palácio que lhe acena.

Mas à entrada,
o resto duma sereia emerge do escuro,
e um lobo acorda do sono dum tapete,
com uma risonha flor nos dentes,

que a uma claridade subterrânea
o palácio está sem teto,
suas paredes transparecem,
todo ele é uma poça de água cintilando!

  Fora,
uma lira de chuva num deserto
acena à prostituta…


Edmundo Bettencourt, Poemas Surdos
Assírio & Alvim
,
1981.


Sem comentários: