Alexandre O'Neill (1924-1986), A linguagem, 1948,
Museu Nacional de Arte Contemporânea
Louvor e Simplificação de Mário Cesariny de Vasconcelos
Sobreviveste, Mário (como assim!) de Vasconcelos,
aos grilos da paróquia.
Entre os blocos de prédios cada vez mais enevoados,
conténs os teus sapatos, como outrora.
Não houve pão-de-ló, nem malvasia,
naquele piquenique no Rossio.
Houve um anão. (Os burros da Malveira
ficaram retidos na fronteira.)
E o anão, que era um trotador,
fez questão de saltar-te para o ombro.
Com a voz grilada pôs-se a gritar «É a Hora!»
Oh, Mário, e tu mandaste-o embora!
Murmurações, cricris acompanharam
o teu gesto nada paternal.
Finalmente os burros liberaram.
Num chouto desesperado aqui chegaram
e estão a comer o teu bornal.
Mário, faz mal?
Louvor e Simplificação de Mário Cesariny de Vasconcelos
Sobreviveste, Mário (como assim!) de Vasconcelos,
aos grilos da paróquia.
Entre os blocos de prédios cada vez mais enevoados,
conténs os teus sapatos, como outrora.
Não houve pão-de-ló, nem malvasia,
naquele piquenique no Rossio.
Houve um anão. (Os burros da Malveira
ficaram retidos na fronteira.)
E o anão, que era um trotador,
fez questão de saltar-te para o ombro.
Com a voz grilada pôs-se a gritar «É a Hora!»
Oh, Mário, e tu mandaste-o embora!
Murmurações, cricris acompanharam
o teu gesto nada paternal.
Finalmente os burros liberaram.
Num chouto desesperado aqui chegaram
e estão a comer o teu bornal.
Mário, faz mal?
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