domingo, 25 de dezembro de 2022

"Nasceu um Menino" - Poema de José Régio


Charles Le Brun (, L'Adoration des bergers, 1689, 
  Paris, Musée du Louvre
 

Nasceu um Menino 


Nasceu, nasceu um Menino,
Nasceu um Menino mais,
No bercinho pouco fino
Das palhas duns animais!

Que num vil curral por quarto
E entre uns pedregulhos nus,
Teve a santa dor do parto
A Mulher que o deu à luz.

Mas de cada vez, no mundo,
Que mais um ser aparece,
Quem pode descer ao fundo
Do que o Destino nos tece?

À hora em que Este chegava,
Lá para um cerro distante,
Por cada fibra chorava
Um velho cedro gigante.

Chorava porque sabia
Que em seu peito condenado
Aquele Menino, um dia,
Seria crucificado.

Ora cada vez, no mundo,
Que nasce mais um Menino,
Quem pode descer ao fundo
Do que nos tece o Destino?

Já, pelos céus fora, um astro
Descendo sobre o curral,
Abre para sempre um rastro
De alvor sobrenatural.

E o velho cedro, que chora
Porque se julga precito,
Pelos séculos fora
Será sagrado e bendito.

Que abertos pelos espaços,
No azul sereno e profundo,
Do sangue duns outros braços
Seus braços dão Vida ao mundo. 


José Régio, em ‘Obra Completa’

 

Charles Le Brun, Le Sommeil de l'Enfant Jésus ou Le Silence, 1655. Paris, Musée du Louvre


“Uma boa consciência é um Natal contínuo.”

Charles Le Brun, portrait by Nicolas de Largillière (French portrait painter, 1656-1746)
 
 
Charles Le Brun 

Charles Le Brun foi um pintor, decorador e teórico francês nascido a 24 de fevereiro de 1619, em Paris, França.
Filho de um escultor que lhe ensinou a profissão, Charles Le Brun cedo revelou vocação para a pintura, começando aos treze anos a trabalhar no atelier do pintor François Perrier. Nessa altura, o talento do jovem chamou a atenção do Chanceler Pierre Séguier que o tomou para sua guarda.

Em 1633, graças ao seu protetor, o artista foi trabalhar para o atelier de Simon Vouet, que teve também entre os seus discípulos futuras grandes personalidades das artes, André Le Nôtre, Pierre Mignard e Eustache Le Sueur. Completou a sua formação numa estadia no Palácio de Fontainebleau onde estudou as coleções de arte reais.

Reconhecido pelo seu grande talento e com o apoio financeiro do seu protetor, Le Brun partiu para Roma, em 1642, a fim de estudar os grandes escultores e pintores italianos e de conhecer os grandes artistas europeus da época, como foi o caso de Nicolas Poussin que veio a ser seu mestre.

De regresso a Paris, em 1646, recebeu várias encomendas, como a do superintendente Fouquet para quem realizou as esculturas dos jardins e as tapeçarias do seu soberbo palácio em Vaux-le-Vicomte ou a da Corporação dos Ourives que lhe encomendou o quadro O Martírio de S. André (1647) para a Catedral Notre-Dame, em Paris. A pedido do Cardeal Mazarino, Le Brun e André Le Nôtre ficaram responsáveis pela transformação do Pavilhão de Caça de Luís III no Palácio de Versalhes.

Em 1660, foi nomeado Primeiro Pintor Real, tornou-se diretor, em 1663, da Manufatura Real dos Gobelins (famosas tapeçarias francesas) e da Mobília Real e chanceler vitalício da Academia Real de Pintura e Escultura, que tinha fundado, em 1648, juntamente com outros onze pintores. Fundou ainda, em 1666, a Academia de França, em Roma, com o objetivo de formar e estimular o talento de jovens pintores e escultores. Depois, ocupou-se exclusivamente da decoração da nova residência real, o Palácio de Versalhes.

Realizou trabalhos de decoração e pintura na Escada dos Embaixadores, na Galeria dos Espelhos, nas salas da Paz e da Guerra e nos grandes apartamentos reais, constantemente inspirado na mitologia e na arte italiana e honrando sempre o Rei Sol - Luís XIV. Le Brun foi ainda o criador da Art Officiel, uma arte colocada ao serviço do poder e das grandes instituições.

Em 1683, com a morte de Jean-Baptiste Colbert, um dos protetores do artista, Le Brun foi substituído, nas suas funções de superintendente dos edifícios, das artes e das manufaturas, por Pierre Mignard, protegido do Marquês de Louvois. Em resultado desta substituição, o artista passou a produzir apenas quadros de temáticas religiosas e a ocupar-se do Palácio de Montmorency.

Como teórico, escreveu o tratado A Expressão das Paixões (1663), no qual analisou os diferentes estilos e géneros de pinturas, e Método para Aprender a Desenhar as Paixões (1698, edição póstuma), no qual descodificou, apoiando-se nas teorias de Nicolas Poussin, a expressão visual das paixões na pintura.

Quanto aos seus trabalhos, destacam-se ainda, para além dos acima mencionados, a decoração pictural da Galeria de Apolo (1663), no Louvre, e os quadros O Retrato Equestre do Chanceler Séguier (1655-1657), Alexandre e Porus (1673) e Adoração dos Pastores (1690), entre muitos outros. Charles Le Brun faleceu a 12 de fevereiro de 1690, em Paris. (Daqui)
 

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