Werner Holmberg (Finnish painter, 1830–1860), Landscape from Kuru in Morning Light, 1858,
As três palavras mais estranhas
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já se perde no passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
suprimo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não ser.
Wisława Szymborska, "Instante".
In Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Wisława Szymborska
(Photo credit: Polish News Agency PAP)
(Photo credit: Polish News Agency PAP)
Poetisa
e mulher de letras polaca, Wisława Szymborska nasceu a 2 de julho de
1923 em Bnin, nas cercanias de Kórnik. Acompanhou a família na sua
mudança para Cracóvia em 1931.
Após um período difícil para a Polónia, invadida pelos alemães em 1939, a paz trouxe um novo alento a Szymborska, que, em 1945, não só pôde ingressar na Universidade de Jagelão, em Cracóvia, como estudante de Literatura Polaca e Sociologia, como também se estreou como poetisa, ao publicar o seu trecho "Szukam Slowa" num jornal proeminente.
Concluiu o seu primeiro livro em 1948, uma coletânea de poemas que não chegou a ser publicada, já que o regime comunista caracterizou o trabalho como demasiadamente burguês. Alterando o seu discurso, politizando-o, conseguiu dedilhar as tramas da censura, e publicou Dlagtego Zyjemy (1952, Por Isso Vivemos).
Contribuindo regularmente para a imprensa, Szymborska foi editora de poesia e colunista no semanário literário de Cracóvia, o Zycle Literackie, entre 1953 e 1981. Traduziu também várias obras de poesia francesa, mas continuou no entanto a compor poesia, aparecendo com obras como Wolanie Do Yeti (1957, Apelo ao Yeti), em que se demarca dos ideais socialistas, e que lhe garante renome a nível internacional, e Sól (1962, Sal), em que exprime um certo pessimismo quanto ao futuro da humanidade, aliado a uma certa esperança nos poderes da imaginação, único meio para atingir uma parte da felicidade. De mencionar também as obras Wiersze Wybrane (1964), Sto Pociech (1967), Ludzie Na Moscie (1986) e Koniec I Poczatec (1993). Chwila surgiu em 2002, quando a poetisa contava já setenta e nove anos de idade. Alguns dos seus artigos periódicos foram compilados em Lektury Nadobowiazkowe (1973-81).
Laureada com inúmeros prémios literários, entre os quais se destacam o Goethe, em 1991, o Herder, em 1995 e, de maior relevo, o Prémio Nobel da Literatura em 1996, Szymborska recebeu um doutoramento em Honoris Causa pela Universidade de Poznán em 1995. (Daqui)
Após um período difícil para a Polónia, invadida pelos alemães em 1939, a paz trouxe um novo alento a Szymborska, que, em 1945, não só pôde ingressar na Universidade de Jagelão, em Cracóvia, como estudante de Literatura Polaca e Sociologia, como também se estreou como poetisa, ao publicar o seu trecho "Szukam Slowa" num jornal proeminente.
Concluiu o seu primeiro livro em 1948, uma coletânea de poemas que não chegou a ser publicada, já que o regime comunista caracterizou o trabalho como demasiadamente burguês. Alterando o seu discurso, politizando-o, conseguiu dedilhar as tramas da censura, e publicou Dlagtego Zyjemy (1952, Por Isso Vivemos).
Contribuindo regularmente para a imprensa, Szymborska foi editora de poesia e colunista no semanário literário de Cracóvia, o Zycle Literackie, entre 1953 e 1981. Traduziu também várias obras de poesia francesa, mas continuou no entanto a compor poesia, aparecendo com obras como Wolanie Do Yeti (1957, Apelo ao Yeti), em que se demarca dos ideais socialistas, e que lhe garante renome a nível internacional, e Sól (1962, Sal), em que exprime um certo pessimismo quanto ao futuro da humanidade, aliado a uma certa esperança nos poderes da imaginação, único meio para atingir uma parte da felicidade. De mencionar também as obras Wiersze Wybrane (1964), Sto Pociech (1967), Ludzie Na Moscie (1986) e Koniec I Poczatec (1993). Chwila surgiu em 2002, quando a poetisa contava já setenta e nove anos de idade. Alguns dos seus artigos periódicos foram compilados em Lektury Nadobowiazkowe (1973-81).
Laureada com inúmeros prémios literários, entre os quais se destacam o Goethe, em 1991, o Herder, em 1995 e, de maior relevo, o Prémio Nobel da Literatura em 1996, Szymborska recebeu um doutoramento em Honoris Causa pela Universidade de Poznán em 1995. (Daqui)
"De vez em quando a eternidade sai do teu interior e a contingência substitui-a com o seu pânico. São os amigos e conhecidos que vão desaparecendo e deixam um vazio irrespirável. Não é a sua 'falta' que falta, é o desmentido de que tu não morres."
Vergílio Ferreira, em "Escrever" (póstumo), 2001
Resumo
"Escrever" é o último livro que Vergílio Ferreira (1916-1996) escreveu, e a segunda obra póstuma do autor de "Aparição". A sua edição, crítica, esteve a cargo de Helder Godinho (1947-2020), professor e estudioso da obra do escritor, e coordenador da equipa responsável pelo seu espólio.
Vergílio Ferreira trabalhou neste livro até ao dia que antecedeu a sua morte, e nele repensa os seus grandes temas de sempre, atualizando-os: a matéria da escrita e da arte, o corpo, a velhice e a doença, a morte, o abismo para onde, na sua opinião, a civilização caminha (não deixando de lado uma matéria que ultimamente tanto se discute: o poder perverso da televisão). São fragmentos, pensamentos, reflexões, por vezes escritos quase como um poema em prosa, ou mais filosóficos e mais próximos daqueles que desenvolveu em "Espaço Invisível V".
Sobre o livro, no qual trabalhou dois anos, Helder Godinho disse ao jornal Público: "Este livro é o retomar de alguma problemática [dos seus grandes temas] mas atualizada, na relação direta que ele mantém com o que vai acontecendo, com a contemporaneidade. "Escrever" é o retomar de velhas preocupações, mas adaptadas ao que se está a viver e, por outro lado, o reforço do drama da morte que se aproxima. É um homem que está doente e que sabe que está velho - e isso aparece em "Escrever" com uma força que não aparece em mais nenhum livro. As entradas sobre a velhice são imensas e algumas já são escritas com algum distanciamento." (Daqui)
Vergílio Ferreira trabalhou neste livro até ao dia que antecedeu a sua morte, e nele repensa os seus grandes temas de sempre, atualizando-os: a matéria da escrita e da arte, o corpo, a velhice e a doença, a morte, o abismo para onde, na sua opinião, a civilização caminha (não deixando de lado uma matéria que ultimamente tanto se discute: o poder perverso da televisão). São fragmentos, pensamentos, reflexões, por vezes escritos quase como um poema em prosa, ou mais filosóficos e mais próximos daqueles que desenvolveu em "Espaço Invisível V".
Sobre o livro, no qual trabalhou dois anos, Helder Godinho disse ao jornal Público: "Este livro é o retomar de alguma problemática [dos seus grandes temas] mas atualizada, na relação direta que ele mantém com o que vai acontecendo, com a contemporaneidade. "Escrever" é o retomar de velhas preocupações, mas adaptadas ao que se está a viver e, por outro lado, o reforço do drama da morte que se aproxima. É um homem que está doente e que sabe que está velho - e isso aparece em "Escrever" com uma força que não aparece em mais nenhum livro. As entradas sobre a velhice são imensas e algumas já são escritas com algum distanciamento." (Daqui)
Werner Holmberg, Autumn Morning, 1856, Turku Museum of Art, Turku, Finland.
“Que
é que me diz à evocação a montanha onde nasci? Os uivos do vento numa
noite de tempestade, a neve do início genesíaco. Mas o mar diz-me da
constante inquietação e só a montanha me lembra o estável e o eterno.
Massa enorme, nascida do ventre da Terra, está ali repousada sobre o seu
ser, feita da substância da eternidade. Assim ao contemplá-la eu
próprio repouso sobre mim, esvaziado do que me oprime ou inquieta,
transmudando-me ao que nela há de estável e denso e alastrado aos
poderes cósmicos. Como tudo o que é imenso dissolve-me a pequenez ou
equilibra-a no que a transcende como se transposta à sua grandeza que me
reabsorve em si e me dissipa a minha própria individualidade. Que é que
me fala à evocação da montanha que perdi? Não sei. Talvez apenas a
humildade do meu ser que se desvanece.”
“Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá.”
Vergílio Ferreira, em "Escrever" (daqui)
"Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim."
Vergílio Ferreira, em "Escrever"
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