Esqueço-me das horas transviadas
Esqueço-me das horas transviadas...
O Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros...
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...
Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco... Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do Outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...
s. d.
Fernando Pessoa, «Passos da Cruz», Poesias.
(Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 33.

Gregorio Prieto, Luis Cernuda en un jardín inglés, 1937-1940
"Deus, que nos fizeste mortais, porque é que nos deste a sede de eternidade de que é feito o poeta?"

Sem comentários:
Enviar um comentário