sábado, 22 de setembro de 2012

"Reconciliação" - Poema de Johann Wolfgang von Goethe


Giuseppe Molteni (1800-1867), A Confissão, 1838, Gallerie di Piazza Scala, Milão



Reconciliação 


A paixão traz a dor! — Quem é que acalma 
Coração em angústia que sofreu perda tal? 
As horas fugidias — para onde é que voaram? 
O que há de mais belo em vão te coube em sorte! 
Turbado está o espírito, o agir emaranhado; 
O mundo sublime — como foge aos sentidos! 

Mas eis, com asas de anjo, surge a música, 
Entrelaça aos milhões os sons aos sons 
Pra varar, lado a lado, a alma humana 
E de todo a afogar em eterna beleza: 
Marejado o olhar, na mais alta saudade 
Sente o preço divino dos sons e o das lágrimas. 

E assim aliviado, nota em breve o coração 
Que vive ainda e pulsa e quer pulsar, 
Pra ofertar-se de vontade própria e livre 
De pura gratidão pela dádiva magnânima. 
Sentiu-se então — oh! pudesse durar sempre! — 
A ventura dobrada da música e do amor. 


Johann Wolfgang von Goethe,
in "Últimos Poemas do Amor, de Deus e do Mundo"
Tradução de Paulo Quintela 
 

Johann Wolfgang von Goethe em 1811


Johann Wolfgang von Goethe nasceu de uma família nobre em  Frankfurt am Main,  em 1749, e morreu em  Weimar, em 1832. 
Foi um escritor alemão e pensador que também fez incursões pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX
De sua vasta produção fazem parte: romances, peças de teatro, poemas, escritos autobiográficos, reflexões teóricas nas áreas de arte, literatura e ciências naturais. Além disso, sua correspondência epistolar com pensadores e personalidades da época é grande fonte de pesquisa e análise de seu pensamento. 
Tendo recebido uma educação multifacetada nos primeiros anos da sua vida, estudou Direito em Leipzig a partir de 1765. São dessa época as suas primeiras obras poéticas (canções e odes) e também o auto pastoril Caprichos do Apaixonado, que reflete o seu amor por Käthchen Schönkopf, filha de um estalajadeiro.
Doença grave obriga-o a regressar a Frankfurt em 1768, mas pouco depois retoma em Estrasburgo os seus estudos universitários, que completa em 1771. Influenciado pelo escritor e filósofo alemão Johann G. Herder (1744-1803), Goethe volta-se para o irracionalismo do movimento literário e artístico designado por Sturm und Drang, evidenciando especial interesse pela poesia popular, pelos poetas da Antiguidade (Homero, Píndaro, Ossian) e pela obra poética do dramaturgo inglês William Shakespeare (1554-1616), assim como pelo estudo da arte gótica. São dessa época os ensaios Shakespeare (1771) e Da Arte Alemã (1773).
Os seus amores pela filha do pároco de Sessenhein (Alsácia) foram a origem das poesias líricas Canção de Maio, Boas-Vindas e Despedida.
Também a ligação amorosa de Goethe com Charlotte Buff, noiva do secretário da embaixada, inspira poesias líricas, como Prometeu, Ganimedes e Cântico de Maomet; são também dessa época os poemas dramáticos Goetz von Berlichingen, Deuses, Heróis e Wieland, o poema épico O Judeu Errante, o poema dramático Clavigo (1774) e o romance epistolar e sentimental Os Sofrimentos do Jovem Werther, que é um espelho dos amores de Goethe com Charlotte Buff e que, em breve, alcança renome internacional.
A viagem à Suíça com os condes de Stolberg ocasiona o seu encontro com Carlos Augusto, o duque de Weimar, que convida Goethe para a sua corte, onde, a partir de 1776, passa a desempenhar as funções de conselheiro, e mais tarde, as de ministro de Estado.
Das relações de amizade que então trava com Charlotte von Stein, sete anos mais velha do que ele, e da influência poderosa que dela recebe no sentido do seu amadurecimento espiritual são prova as suas próximas obras, que incluem dramas para o teatro de amadores e os poemas líricos Ilmenau, Viagem de Inverno ao Harz, Cântico dos Espíritos sobre as Águas, A minha Deusa, O Cantor, À Lua, a versão em prosa de Ifigénia (1779) e o começo do romance Wilhelm Meister.
Nos anos de 1779 e 1780 acompanha o duque Carlos Augusto na segunda viagem à Suíça, de que nasceram as Cartas da Suíça.
No outono de 1786 inicia a sua viagem à Itália, com estadia longa em Roma e uma deslocação à Sicília. Durante dois anos trava contacto aturado com a arte antiga e a arte italiana, o que provoca a sua atenção especial e o seu interesse definitivo pelo Classicismo, onde ressaltavam as ideias da humanidade e o esforço pela harmonia. O período fecundo que sucedeu à sua viagem à Itália foi marcado pelo aparecimento das seguintes obras: versão em verso da tragédia Ifigénia (1787); Egmont (1788), uma das suas melhores obras dramáticas; o drama psicológico Tasso, que tanto tem de autobiográfico, e o Fausto - Um Fragmento (1890).
Goethe estabelece-se então em Weimar, dispensado já do exercício de funções públicas, com exceção da direção de instituições artísticas e científicas.
Goethe mantém uma ligação amorosa com Cristiane Vulpius ao longo de vários anos, durante os quais publica, com reflexos dessa ligação, Idílios Romanos (1795) e Epigramas Venezianos.
Em 1794 anuncia em público, em Jena, a sua amizade com Friedrich Schiller (1759-1805) e a colaboração estreita entre os dois poetas, de modo especial quanto à criação de um teatro nacional e a assuntos de grande interesse para a literatura. Publica, em 1796, o romance didático Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, a que se seguem a epopeia idílica, em verso, Hermann e Dorothea (1797) e a tragédia Filha Natural (1803). Entretanto, permanentemente estimulado por Schiller, dá seguimento aos trabalhos relativos à continuação do Fausto. Em 1806 casa com Cristiane Vulpius e, em 1809, publica Afinidades Eletivas, em que descreve, na personagem Ofélia, a sua bem-amada Minna Herzlieb, à qual se refere também nos Sonetos publicados, mais tarde, em 1815.
Começa então a preocupação de Goethe pela sua própria evolução biográfica e espiritual, e publica A Minha Vida, Ficção e Verdade e Viagem à Itália em 1814.
Como resultado da sua viagem ao Reno e ao Meno, aparece em 1814-15 a coletânea lírica O Divã Ocidental e Oriental.
Em 1821 publica a primeira parte de Anos de Peregrinação de Wilhelm Meister, que, com os elementos líricos, novelísticos e aforísticos que enriquecem esta obra, representa o trabalho que o homem, nas suas próprias limitações, realiza para a comunidade, e constitui o tema principal da segunda parte da grande obra da idade avançada do poeta, o Segundo Fausto, que viria a ser publicado em 1832, ano da sua morte.
A última inclinação amorosa de Goethe, já no 74.° ano da sua vida, pela jovem de 19 anos Ulrike von Levetzow não foi correspondida, circunstância a que se alude na Trilogia da Paixão, publicada em 1827.
Goethe passa os últimos anos da sua vida a reexaminar e ordenar as suas obras.
Escritor de admirável elegância de estilo e de grande poder imaginativo, além de ser um pensador profundo, Goethe abraçou um vasto conjunto de conhecimentos e de interesses humanos.
Para a Alemanha, que nos séculos XVI e XVII não tinha ainda beneficiado do movimento da Renascença, Goethe constituiu, sozinho, uma Renascença completa. Para o resto do mundo foi um dos génios mais ricos e poderosos da Humanidade.
Morreu em Weimar, com 83 anos, aureolado pela admiração universal.

J. W. Goethe. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-09-22].



Galeria de Giuseppe Molteni
Giuseppe Molteni (Affori, Milan, 1800 – Milan, 1867) foi um pintor italiano.

Giuseppe Molteni, Retrato de Alessandro Manzoni, 1835


Giuseppe Molteni, La Signora di Monza, 1847


Giuseppe Molteni, Retrato de Giovanni Migliara, 1929



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