René Bértholo, Memórias dum circo, 1991, óleo sobre tela, 116 x 81 cm
Falo do que é físico
Falo do que é físico porque não tenho outra realidade.
Falo do corpo
do mundo
do que ainda não sabemos e chamamos divino.
Falo do que é físico
porque tudo o que é real tem corpo e ocupa espaço.
Falo disso.
Falo do que existe
e tudo é tanto que nunca chega o tempo
nunca chega o fôlego.
Vejo até à asfixia
gente, coisas, o invisível.
Tudo me faz estar em permanente frémito
sair para a rua de noite
e andar até cair de cansaço.
Pensando em tudo isso
extremamente sobreposto
como se uma grande dor não anulasse outra
como se fosse possível
pensar em mais de uma coisa de uma só vez
sentindo o simultâneo impossível
querendo abranger
a incontrolável voracidade dentro de tudo.
Corro por mim fora
como um grande atleta
campeão de barreiras e distâncias invencíveis
tentando vencer
mas tudo é enorme e intrincado
tudo em mim são olhos vigilantes
sem jamais pálpebra.
Mas tudo isso não chega.
Tudo é enorme
e morro tão depressa.
Ana Hatherly, 1929
René Bértholo
Pintor português, René Augusto da Costa Bértholo, filho do pintor Augusto Bértholo, nasceu em 1935, em Alhandra, e faleceu a 10 de junho de 2005. Estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde conheceu Lourdes Castro, com quem viria a casar. Juntamente com esta artista e com José Escada cria, em 1953, a revista Ver e, no ano seguinte, realiza a sua primeira exposição individual em Lisboa.
Em 1956, após terminar o curso, partilha o atelier com a sua mulher e com os artistas José Escada, Gonçalo Duarte e João Vieira, formando o Grupo do Gelo. No ano seguinte desloca-se a Munique e, em 1959, enquanto bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, instala-se em Paris. Nesta cidade reune-se aos anteriores colegas que formam o grupo KWY (aos quais se associam mais tarde Costa Pinheiro, Jan Voss e Christo Javacheff) e torna-se um dos artistas mais experimentalista desta associação, produzindo pintura abstrata que explora particularmente os valores cromáticos e luminosos. Realiza também alguns trabalhos mais ligados ao informalismo gestual, de carácter espontâneo e instintivo e de execução rápida.
Estas obras denunciam já a importância que o desenho, de expressão linear, irá assumir mais tarde, em 1962, altura em que René Bértholo adota uma linguagem neofigurativa fortemente comunicativa e irónica, iniciando a fase mais interessante e conhecida da sua carreira. As suas pinturas deste período partem da associação livre de elementos abstratos de carácter decorativo com desenhos figurativos, normalmente lineares, que representam objetos do quotidiano e da cultura nacional e muitas vezes se assemelham a brinquedos.
A sua pintura apresenta imagens decompostas e fragmentares, repletas de figuras que constituem uma narração ou uma escrita de sentido auto-biográfico e memorialista.
De entre as muitas obras que realiza, destacam-se as pinturas "Um exemplo por dia", de 1965, "La polygamie", de 1965, "La balise", de 1967, "Encobrimentos", de 1993 e "Notas biográficas", de 1994.
René Bértholo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-09-02].
René Bértholo
René Bértholo
René Bértholo
Reneé Bértholo, serigrafia
René Bértholo, Sem título
René Bértholo, Palais royal, 1964
René Bértholo, Crash, 1964
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“Comece aprendendo a desenhar e pintar como os velhos mestres.
Depois disso, faça como quiser, todos te respeitarão.”
(Salvador Dali)
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