Annie Louisa Swynnerton, The Sense of Sight, 1895
Pertencer
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!
Clarice Lispector, A Descoberta do Mundo
Annie Louisa Swynnerton
Annie Louisa Robinson Swynnerton (1844 – 24 October 1933) was an English painter.
She was born in Kersal, then a suburb of Manchester. She was one of the seven daughters of solicitor Francis Robinson; she began painting to contribute to the family's support. Later she trained at the Manchester School of Art and the Académie Julian in Paris. She married sculptor Joseph Swynnerton in 1883 and lived with him in Rome for much of her maturity.
She was an active feminist and suffragette. With Susan Dacre she founded the Manchester Society of Women Painters in 1876.
Among her creations were Cupid and Psyche. In 1922 she became the first female associate of the Royal Academy since the 18th century. She died on Hayling Island in 1933.
She was born in Kersal, then a suburb of Manchester. She was one of the seven daughters of solicitor Francis Robinson; she began painting to contribute to the family's support. Later she trained at the Manchester School of Art and the Académie Julian in Paris. She married sculptor Joseph Swynnerton in 1883 and lived with him in Rome for much of her maturity.
She was an active feminist and suffragette. With Susan Dacre she founded the Manchester Society of Women Painters in 1876.
Among her creations were Cupid and Psyche. In 1922 she became the first female associate of the Royal Academy since the 18th century. She died on Hayling Island in 1933.
Annie Louisa Swynnerton, Cupid and Psyche, 1891
Annie Louisa Swynnerton, "Mater triumphalis" 1892
Annie Louisa Swynnerton, New Risen Hope
Annie Louisa Swynnerton, The Southing of the Sun
Annie Louisa Swynnerton, The Vagrant
Annie Louisa Swynnerton, The Soul's Journey
Annie Louisa Swynnerton, Montagna Mia
Annie Louisa Swynnerton, Girl with a Lamb
Annie Louisa Swynnerton, Rain Clouds, Monte Gennaro
Annie Louisa Swynnerton, The Olive Gatherers
Annie Louisa Swynnerton, Italian Landscape
Annie Louisa Swynnerton, Interior of San Miniato, Florence
Annie Louisa Swynnerton, Assis
Annie Louisa Swynnerton, The Town of Siena
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