segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Do verão diria uma planície lenta quase amarela" - Poema de Maria do Rosário Pedreira


Alfred Sisley, Meadow, 1875


Do verão


Do verão, diria uma planície lenta, quase amarela: o trigo
a enrolar-se nos pés, o oiro do sol, os cabelos
mais loiros. Um vento quente e ondulante sibilando
nas frestas de um celeiro. O fumo sonolento do calor
tornando informe o fio do horizonte. Do verão

diria também um tempo espesso onde todos
os acasos são sofríveis: duas papoilas, vermelho-sangue,
agitam a paisagem. Tu chegas e a minha pele chama-te
sete nomes em surdina. É a luz da tarde que faz o fulgor
dos fenos e aquece a roupa que abandonou o corpo
sem perguntas. As mãos podem então dar-se
todos os recados. E amanhã ninguém sabe. Fica

apenas um punhado de espigas quebradas sobre a planície
lenta; amarela, digo: as papoilas, entretanto, voaram.


Maria do Rosário Pedreira,
 Poesia reunida, Quetzal, Lisboa, 2012


Alfred Sisley, A path at Les Sablons, 1883


"Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência."

Ralph Waldo Emerson


Alfred Sisley, Bridge at Hampton Court, 1874


"A natureza está constantemente a misturar-se com a arte."

Ralph Waldo Emerson



Alfred Sisley, Bridge at Villeneuve-la-Garenne, 1872
 

"A Natureza é uma nuvem mutável, sempre e nunca a mesma."

Ralph Waldo Emerson


 
Ralph Waldo Emerson
Estados Unidos, 1803-1882
Escritor, Poeta, Filósofo, Ensaísta 



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