Adolph Gottlieb (1903-1974), 'Grand Concourse', Oil on canvas, 1927
Pássaros Matinais
Desperto o automóvel
que tem o para-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
(1966)
Adolph Gottlieb, Untitled, 1934
Adolph Gottlieb, Untitled, 1938 (Arizona Still Life)
Adolph Gottlieb, Pictograph – Symbol, 1942
Adolph Gottlieb, Black Hand, 1943
Adolph Gottlieb, Mariner's Incantation, 1945
Adolph Gottlieb, Sailor's Charm, 1945
Adolph Gottlieb, Untitled, 1947
Adolph Gottlieb, Figures, 1948
Adolph Gottlieb, Untitled, 1949
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