sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Pássaros Matinais" - Poema de Tomas Tranströmer


Adolph Gottlieb (1903-1974), 'Grand Concourse', Oil on canvas, 1927



Pássaros Matinais


Desperto o automóvel
que tem o para-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.

Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.

Não há vazios por aqui.

Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direção.

Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:

Não há vazios por aqui.

É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.

O poema está pronto.


(1966)




Adolph Gottlieb, Untitled, 1934 


Adolph Gottlieb, Untitled, 1938 (Arizona Still Life)


Adolph Gottlieb,  Pictograph – Symbol, 1942


Adolph Gottlieb, Black Hand, 1943


Adolph Gottlieb, Mariner's Incantation, 1945


Adolph Gottlieb, Sailor's Charm, 1945


 
Adolph Gottlieb, Untitled, 1947 


Adolph Gottlieb,  Figures, 1948


Adolph Gottlieb, Untitled, 1949 


Sem comentários: