Amarante (Portugal) - Rio Tâmega, Ponte e Mosteiro
Sem causa a Infância ri
Sem causa a Infância ri, sem causa chora:
Incauta se despenha a mocidade;
Sacode o jugo, e nela a liberdade,
A caça, o jogo, o amor, tudo a namora.
Das honras o varão se condecora;
Tudo é nele ilusão, tudo vaidade:
Junta Tesouros a avarenta idade;
Diz mal do nosso, e ao tempo andado adora.
Tormento é toda a vida, é toda enganos:
Quando uns afetos vence a novos corre,
E tarde reconhece os próprios danos:
Porque enfim se a prudência nos socorre,
Ditada na lição dos longos anos,
Quando se sabe, então é que se morre.
in 'Antologia Poética'
Frontispício da primeira edição em 1786 de Poesias
de Paulino António Cabral, Abade de Jazente
Escritor português, Paulino António Cabral de Vasconcelos, melhor conhecido por Abade de Jazente, nasceu em Amarante a 6 de Maio de 1719 e faleceu na mesma cidade a 20 de novembro de 1789.
Tornou-se pároco de Jazente, a partir de 1753, cargo ao qual resignou, por doença, em 1783. Estudou em Coimbra e foi uma das presenças da Arcádia Portuense que reuniria por finais de 1760. A sua vida repartiu-se entre esta, as festas conventuais e a solidão rústica.
Como poeta, sobretudo sonetista, cantou os temas horacianos do amor epicurista e da dourada mediania rural. A obra legada fornece-nos preciosos depoimentos históricos e também por ela sabemos dos seus prazeres (a caça, a pesca, o jogo, a boa mesa); das suas fraquezas, do seu triste envelhecer, dos seus amores, pois revela-nos episódios concretos de um relacionamento com Nise (anagrama de Inês da Cunha). Os sonetos respeitantes a esta constituem o mais pungente drama de amor do século XVIII português. Além de poesia de circunstância, deixou textos de conteúdo moral e poesia de matiz romântica. (Daqui)
"A infância, no poeta, jamais se extingue. Talvez por isso eles sejam tão vulneráveis, os poetas."
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