terça-feira, 14 de abril de 2015

"Nascer todas as manhãs" - Texto de Miguel Torga


O homem vitruviano de Leonardo da Vinci sintetiza o ideário renascentista: humanista e clássico.
As ideias de proporção e simetria aplicadas à anatomia humana. 


Nascer todas as manhãs


Apesar da idade, não me acostumar à vida. Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. Esquecer em cada poente o do dia anterior. Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória. Nascer todas as manhãs.

Miguel Torga, in "Diário (1982)" 


Os Diários Torga, publicados originalmente em edição de autor, em 16 volumes, misturam poesia, contos, memórias, crítica social e reflexões. Eles constituem o retrato de um homem, de um escritor e de um tempo.
Publicados ininterruptamente entre 1941 e 1993, dão-nos uma apaixonante visão do país e da sociedade portuguesa da época, com todas as transformações que ao longo desse tempo a marcaram.

No último volume, diz:
 
"Chego ao fim, perplexo diante de meu próprio enigma. Despeço-me do mundo a contemplar atónito e triste o espetáculo de um pobre Adão paradoxal, expulso da inocência sem culpa, sem explicação."


Vitrúvio 


Vitrúvio (Marcos Vitrúvio Polião)  foi um arquiteto romano que viveu no século I a.C. e deixou como legado a obra "De Architectura" (10 volumes, aprox. 27 a 16 a.C.), único tratado europeu do período greco-romano que chegou aos nossos dias e serviu de fonte de inspiração a diversos textos sobre Arquitetura e Urbanismo, Hidráulica, Engenharia, desde o Renascimento.
Os seus padrões de proporções e os seus princípios conceituais - "utilitas" (utilidade), "venustas" (beleza) e "firmitas" (solidez) -, inauguraram a base da Arquitetura clássica.


Poggio Bracciolini (1380-1459)


Foi no início da Idade Moderna que Poggio Bracciolini (1380-1459) descobriu as obras completas de quinze diferentes autores clássicos greco-romanos, nomeadamente o tratado "De Architectura" de Vitrúvio, na biblioteca da abadia beneditina de Saint-Gall. Essa descoberta lançou as bases humanistas da Arquitetura do Renascimento.


Johann Wolfgang Goethe, 1811


"Arquitetura é música petrificada."



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