O Inverno que vem
Bloqueio sentimental! Despachos do Levante!...
Oh, cair da chuva! Oh! cair da noite,
Oh! o vento!...
O Dia de Todos os Santos, o Natal e o Ano Entrante,
Oh! na garoa, todos as minhas chaminés!...
De fábricas...
Não se pode mais sentar, todos os bancos, molhados;
Creia-me, tudo acabado até o ano que vem,
Todos os bancos, molhados, com os bosques embotados,
E assim as trompas sopraram ton ton, sopraram ton taine!...
Ah! nuvens vindas lá da Mancha,
Nosso último domingo, vocês mancham.
Está garoando;
As teias de aranha na floresta molhada
Vergam sob as gotas e ficam aruinadas.
Sóis plenipotenciários da lavoura
Em fontes de ouro
Dos espetáculos agrículas,
Onde estais sepultados?
Esta tarde um sol que morre
Jaz no cume do morro
Jaz sobre o flanco
Nas giestas, sobre um manto.
Um sol branco
Como tabuleta de boteco
Sobre uma liteira de giestas amarelas,
As giestas amarelas do outono.
E soam-lhe as trompas!
Que ele retorne...
Que a si próprio retorne!
Taïaut! Taïaut! e hallali!
Ó triste antífona, chegas ao fim!...
E fingem-se em folia!...
Ele alí jaz, como uma glândula arrancada de um pescoço,
E fremente,
sem ninguém presente!...
Vamos, vamos e hallali!
É o Inverno conhecido que se avizinha;
Oh! as curvas das grandes estradas,
E sem o pequeno Chapeuzinho Vermelho que caminha!...
Oh! seus sulcos dos carros do outro mês,
Subindo em trilhas quixotescas
Rumo às patrulhas das nuvens em derrota
Que o vento maltrate os apriscos transatlânticos!...
Aceleremos, aceleremos, é a estação agora conhecida.
E o vento, nesta noite, fez das suas!
Ó ninhos, ó ruínas, ó jardins desgados!
Meu coração e meu sono: ó ecos de machados!...
Todos estes ramos ainda tinham folhas verdes,
Sob as plantas apenas um esterco de folhas mortas;
Folhas, folíolos, que vos leve um bom vento
Para os charcos, aos enxames,
Ou para o fogo dos couteiros,
Ou os enxergões das ambulâncias
Para os soldados longe da França.
É a estação, é a estação, a ferrugem invade as massas,
Rói a ferrugem em seus spleens quilométricos
Os fios telegráficos das grandes estradas onde nada passa.
As trompas, as trompas, as trompas – melancólicas!...
Melancólicas!...
Seguem, alterando o tom,
Alterando o tom e a música
Ton ton, ton taine, ton ton!...
As trompas, as trompas, as trompas!...
Seguiram para o vento Norte.
Não posso deixar tal tom: que ecos!...
É a estação, é a estação, adeus vindimas!...
Com uma calma de anjo chegam as chuvas lá de cima.
Adeus vindimas e adeus a todos os cestos,
Todas os cestos Watteau feixes sob os castanheiros.
É a tosse, no dormitório da escola, que reentra,
É a tisana sem fogão,
É a tísica pulmonar contristando o quarteirão,
E toda a miséria dos grandes centros.
Milho, lanifícios, borracha, farmácia, sonhar,
Cortinas abertas nas varandas à beira-mar
Frente ao oceano dos telhados dos bairros,
Lâmpadas, estampas, chá, petits-fours,
Não sereis meus únicos amores!...
(Oh, e aliás conheces, além dos pianos,
O sóbrio e vesperal mistério hebdomadário
Das estatísticas sanitárias
Nos jornais?)
Não, não! é a estação e o planeta cómico!
Que a ventania, que a ventania
Desfia
Os chinelos, pois o tempo se tricota!
É a estação, oh dilacerações! é a estação!
Todos os anos, todos os anos,
Tentarei em coro dar a nota.
em "Poetas franceses do século XIX".
Tradução José Lino Grünewald
"Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água."