Edvard Munch, Anxiety, 1894, 94 × 74 cm. Munch Museum, Oslo
Dimensões
Meçam-me para um funeral
Com minha cova rasa expressando
De um jeito preciso, euclidiano,
Meu ser tridimensional.
Pode ser a vida tão pequena, tão magra?
Meça-me no tempo. Mas o tempo não avança
E é estranho e nada sabe de lei ou de mudança
Mas só de morte, que é nada de nada.
Meçam-me pela beleza.
Mas beleza é o primeiro nome que a morte
Deu à vida, seu primeiro falecer, chama
Que tremeluz, um amaranto que se apaga
E se apaga de novo na sombra mortiça da morte.
Meçam-me não pela beleza, que teme lutar.
Pois a beleza faz trégua com a morte,
Comprando desonra e morte eterna
Na esperança de sobreviver a vida.
Meçam-me então pelo amor – mas não ainda,
Pois lembro-me de vezes em que ele buscava
Suas próprias medidas em mim,
Mas fugiu, com medo que eu pudesse predizer
Quão ampla e alta eu mesma era, profunda
E de múltiplas medidas, mudando
Minha escala sobre ele e assim provando
Que tanto eu quanto ele éramos nada.
Meçam-me por mim mesma
E não pelo tempo nem amor nem espaço
Nem pela beleza. Dêem-me só esta última graça:
Que em minha lápide eu possa
Ser uma régua eu mesma.
Não gostaria que essas velhas crenças fracassassem
E provassem que até eu era nada.
Laura Riding, "Mindscapes - poemas"
Seleção, tradução e introdução de Rodrigo Garcia Lopes,
São Paulo: Iluminuras, 2004.
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