sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

"Dimensões" - Poema de Laura Riding


Edvard Munch, Anxiety, 1894, 94 × 74 cm. Munch Museum, Oslo



Dimensões


Meçam-me para um funeral 
Com minha cova rasa expressando 
De um jeito preciso, euclidiano, 
Meu ser tridimensional. 

Pode ser a vida tão pequena, tão magra? 
Meça-me no tempo. Mas o tempo não avança 
E é estranho e nada sabe de lei ou de mudança 
Mas só de morte, que é nada de nada. 

Meçam-me pela beleza. 
Mas beleza é o primeiro nome que a morte 
Deu à vida, seu primeiro falecer, chama 
Que tremeluz, um amaranto que se apaga 
E se apaga de novo na sombra mortiça da morte. 

Meçam-me não pela beleza, que teme lutar. 
Pois a beleza faz trégua com a morte, 
Comprando desonra e morte eterna 
Na esperança de sobreviver a vida. 

Meçam-me então pelo amor – mas não ainda, 
Pois lembro-me de vezes em que ele buscava 
Suas próprias medidas em mim, 
Mas fugiu, com medo que eu pudesse predizer 
Quão ampla e alta eu mesma era, profunda 
E de múltiplas medidas, mudando 
Minha escala sobre ele e assim provando 
Que tanto eu quanto ele éramos nada. 

Meçam-me por mim mesma 
E não pelo tempo nem amor nem espaço 
Nem pela beleza. Dêem-me só esta última graça: 
Que em minha lápide eu possa 
Ser uma régua eu mesma. 
Não gostaria que essas velhas crenças fracassassem 
E provassem que até eu era nada. 

 
Laura Riding
, "Mindscapes - poemas"
Seleção, tradução e introdução de Rodrigo Garcia Lopes,
São Paulo: Iluminuras, 2004.

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