Madeleine Lemaire (Peintre, illustratrice et salonnière française, 1845-1928),
Rêverie du soir.
Rêverie du soir.
Amor
Duas vezes despertei, durante a noite, e fui
para a janela. As lâmpadas, na rua,
eram um pedaço de uma frase dita em sonhos,
levando a parte alguma, como reticências,
sem trazer consolo ou alegria.
Sonhei contigo, quando grávida, e hoje;
tenho vivido tantos anos longe de ti,
senti toda a minha culpa; e suas mãos,
ao tocaram alegremente o teu ventre,
estavam na verdade remexendo
no interruptor da luz. Indo até a janela,
percebi ter-te deixado lá sozinha,
no escuro, no sonho, onde pacientemente
me esperaste, sem me culpar,
até que voltei daquela insólita
interrupção. Pois o escuro, este que a luz
finalmente rompe, dura muito;
nele nos casamos, foi nele que fizemos
amor; e as crianças vieram para
justificar nossa nudez.
Em alguma noite do futuro virás
de novo para mim, cansada, mais magra,
e verei um filho ou filha,
ainda sem nome – desta vez
não correrei para a tomada, nem
tirarei a mãos, pois não tenho o direito
de te abandonar nos domínios das sombras
silenciosas, diante da cerca dos dias,
caindo na dependência de uma realidade
que me contém – e inatingível.
Tradução de Lauro Machado Coelho
Sem comentários:
Enviar um comentário