quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

"Em memória de Angélica" - Poema de Jorge Luis Borges


Thomas Eakins, The Agnew Clinic (or The Clinic of Dr. Agnew), 1889



Em memória de Angélica


Quantas vidas possíveis já descansam
Nesta bem pobre e diminuta morte,
Quantas vidas possíveis que outra sorte
Daria ao esquecimento ou à lembrança!
Quando eu morrer, morrerá um passado;
Com esta flor, morreu só um futuro
Nas águas que o ignoram, o mais puro
Porvir hoje pios astros arrasado.
Eu, como ela, morro em infinitos
Destinos que já não me oferece o acaso;
Procura a minha sombra os gastos mitos
De uma pátria que sempre deu a face.
Um breve mármore diz a sua memória;
Sobre nós todos cresce, atroz, a história. 


Jorge Luis Borges, in “A Rosa Profunda”
 

Thomas Eakins, Portrait of  Samuel David Gross (The Gross Clinic), 1875 ,  
"A ciência poderá ter encontrado a cura para a maioria dos males, mas não achou ainda remédio para o pior de todos: a apatia dos seres humanos."
 
 

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