quinta-feira, 19 de maio de 2022

"Solidão" - Poema de Irene Lisboa


Young People in a Parisian Garden, 1881 



Solidão 

 
Cai chuva, chora.
Chora, chora.
Solidão, solidão!

Já não canta o pássaro.
Calou-se a voz, a alegre, a rara.
A que se ouvia solitária.
Cai chuva.

Não sou freira e estou num convento.
A paz, o silêncio, a chuva, os claustros...
Ser freira!

O sequestro, cantar, rezar.
Cai chuva, rude e sem dor.
Tu não choras.
Sou eu que choro.

Que é do pássaro, como cantava?
Voltou, voltou. Pia!
Bendito pássaro, onde estás?
Acompanha-me, já não chove.
Solidão, melancolia. 
in 'Outono Havias de Vir'


Francisco Miralles y Galup, Street Scene on a Rainy Day, c. 1891


"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós." 
 
"l'important n'est pas ce que l'on a fait de nous mais ce que nous faisons nous-mêmes de ce qu'on a fait de nous." 

Jean-Paul Sartre (Nobel de Literatura, 1964),
 

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